Escola para pais ou para filhos?

É importante que cada um ocupe apenas o seu lugar, que se sinta seguro nele e que confie no lugar do outro.

A comunidade escolar está cada vez mais aberta às famílias e a comunicação também se tornou bastante mais simples e imediata. Logo no pré-escolar é partilhada uma plataforma ou um email – e às vezes até o número de telemóvel do educador ou professor responsável – abrindo as portas ao diálogo fácil, direto e muitas vezes frequente.

Se, por um lado, esta ligação é extremamente útil e não só aproxima como simplifica a troca de informação, por outro, quando os limites não são claros, pode gerar alguma intromissão ou dependência.

A ideia de que os professores ‘mandam’ na escola e os pais em casa às vezes deixa de ser clara e quando alguma coisa parece correr menos bem, os pais dirigem-se imediatamente aos professores com reivindicações, protestos e pedidos de esclarecimentos. Por vezes até em bloco, quando acontece terem tido uma sessão prévia de troca de ideias no grupo de Whatsapp da turma. Desta forma, por vezes, geram-se situações bastante desagradáveis entre o ‘diz que disse’ que invadem em catadupa o email e até a privacidade dos professores.

Por outro lado, alguns encarregados de educação esperam que a escola partilhe com frequência informações e fotografias do que lá se passa. Sobretudo no que respeita às crianças até ao primeiro ciclo. Querem ficar descansados e saber que os filhos ficam bem entregues, que fazem atividade interessantes e pedagógicas, trabalhos excelentes, que têm amigos e brincam de forma feliz e saudável no recreio. Esta expectativa pode criar uma certa dependência nos pais, que não se desligam e ficam ansiosos à espera de receber informações. Se acontece o filho não aparecer nas fotografias entram em pânico: «O que aconteceu ao meu filho? Onde é que ele estava quando estavam a fazer a atividade? Por que não participou? Estava triste, magoado, foi excluído?». Ou então acontece o contrário: «Quem permitiu que a minha filha aparecesse na fotografia? Por que não colocaram um emoji na cara das crianças? Quem tem acesso a estas informações?». Ou ainda: «Porque é que o meu filho não tinha o chapéu na cabeça se estava tanto sol? Quem deu o direito de exporem o desenho do meu filho? Não me parece que essa atividade seja a mais adequada para a idade destas crianças!» E lá surgem as preocupações, ansiedades, arrelias e a chuva de mensagens para o professor que lembram a história ‘O velho, o rapaz e o burro’.

E do outro lado estão os professores e educadores que são ‘presos por  terem cão e presos por não terem’ e que têm de roubar ao tempo com as crianças um bom bocado para lhes tirarem fotografias – sabendo que o Francisco deve aparecer em grande destaque, mas a Maria não pode aparecer de forma alguma -, mais o tempo para partilharem as fotografias e uma mensagem simpática aos pais – que não levante más interpretações – e por fim passar o dia a responder às reações boas e menos boas que lhes vão caindo nas notificações.

Todos desejamos o mesmo, o melhor para as crianças. Mas para que isso aconteça é importante que cada um ocupe apenas o seu lugar, que se sinta seguro nele e que confie no lugar do outro. Para que possamos todos desempenhar o nosso papel o melhor possível e permitir que quem está na escola se possa dedicar inteiramente aos mais novos sem ter de andar de telemóvel na mão preocupado também em cuidar dos pais das crianças.

Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
filipachasqueira@gmail.com