Segunda-feira. 13 de Maio. Começaram os debates televisivos sobre as eleições Europeias. O primeiro tema suscitado foi o Pacto sobre as Migrações e Asilo que tantas divisões tem desencadeado no espaço dos 27 desde que começou a ser discutido em 2020. Trata-se de um conjunto de diplomas que confugiram uma reforma que endurece a imigração na Europa. Esta legislação tinha sido aprovada em abril no Parlamento Europeu e, coincidência das coincidências, recebeu luz verde do Conselho Europeu na terça-feira, 14 de Maio, um dia depois do debate. Se se confirmar nas eleições de 9 de Junho uma viragem à direita do centro de gravidade das instituições Europeias, é de admitir que a questão da imigração volte a ser recolocada em discussão pelos Estados membros.
Em matéria de migrações, o Reino Unido age sem constrangimentos desde que o país saiu da União Europeia. O Brexit permitiu ao governo conservador liderado por Rishi Sunak estabelecer um acordo com o Ruanda, um país Africano com uma história a que está associado o segundo maior genocídio ocorrido no século XX. Pois, é para o Ruanda que o governo Britânico está a enviar os seus imigrantes ilegais mediante o pagamento de algumas dezenas de milhar de euros por cada ser humano. É a isto que Emmanuel Macron chamou a «geopolítica do cinimo ». A expressão é assertiva mas o que se passa no continente Europeu com a externalização das fronteiras de modo a reter em países como a Turquia ou o Egipto os migrantes que os países da União não querem receber nos seus territórios é igualmente um caminho questionável e desumano.
Quinta-feira. Dia 25 de Abril. Na universidade da Sorbonne, o Presidente Françês fez um discurso sobre a Europa. Macron falou durante 1 hora e 50 minutos. Foi uma intervenção eloquente e densa como Emmanuel Macron sempre nos habituou. Foi precisamente nesta intervenção que ele mencionou uma expressão que tem sido reproduzida e comentada em múltiplos fóruns. Afirmou que a «Europa é mortal». Macron deixou a sua visão sobre a ameaça Russa nas fronteiras Leste da Europa e a dependência dos Estados Unidos na política de defesa e de segurança da União. A frase tem pergaminhos. Foi utilizada depois da Primeira Guerra Mundial pelo ensaísta Françês Paul Valéry. Reflectindo sobre o estado da Europa terminada a guerra, Valéry escreveu um ensaio a que chamou a «Crise do Espírito». Macron, e bem, recuperou o pensamento do intelectual Françês que, adaptado aos dias de hoje, mantém toda a actualidade.
Sexta-feira. Dia 10 de Abril. Pela primeira vez nos últimos 5 anos,o Presidente Xi Jiping visita a Europa. Na agenda estavam dois temas: a guerra na Ucrânia e a influência que a China poderá exercer junto da Rússia e, questão tão ou mais importante, as relações comerciais entre a União Europeia e a China, desfavoráveis neste momento à Europa. Em razão deste segundo ponto, Emmanuel Macron chamou à reunião com Xi a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen. A ‘paciência’ Chinesa é indecifrável. O que aconteceu de certo foi que a seguir a Paris, o Presidente XI concluiu a viagem na Sérvia e na Hungria. Curioso? Nem tanto. A Sérvia, país candidato ao alargamento, e a Hungria são democracias musculadas e simpatizantes da causa Russa.
Um apontamento: Há cerca de 2 meses, o ministro françês das finanças, Bruno le Maire entrou num avião da Air France com destino a Pequim. Le Maire foi encontrar-se com os accionistas do carro eléctrico Chinês que rivaliza com o Tesla norte-americano. Trata-se do BYD. O que há de relevante nesta história é que os Chineses estavam a decidir em que país iriam construir a sua primeira fábrica na Europa. A França estava na corrida, assim como a Espanha e a Hungria. Os Chineses optaram pela Hungria, o país que é dirigido pelo utra-conservador Viktor Orbán e que assume a presidência do Conselho Europeu no segundo semestre de 2024.
São também estas algumas notas que atravessam o debate sobre as eleições europeias.