Depois do Presidente da República ter dito que os países colonizados por Portugal deveriam ser indemnizados, duas ativistas brasileiras apareceram na televisão a enumerar as patifarias dos portugueses ao longo dos séculos. No Brasil, o assunto é recorrentemente debatido com Portugal a ser colocado no pau de arara como justo castigo pelas suas maldades. O facto de ter sido Portugal a criar esse grande país, de o ter defendido contra invasões, de o ter mantido unido e de ter criado as suas principais cidades, isso não parece interessar aos brasileiros.
Isto acontece porque após a independência o Brasil tornou-se um dos países mais avançados do mundo. Sem os portugueses a atrasar o país, os brasileiros transformaram-no num modelo de democracia, justiça social e luta contra a corrupção. Emigrantes de todo o mundo, sobretudo portugueses, aterram no Brasil para usufruir de salários altos, um sistema de saúde perfeito e, sobretudo, segurança nas ruas. Ligam-se as televisões e abrem-se os jornais brasileiros e não há um crime, um caso de corrupção, meninos abandonados na rua, prostituição infantil. São tantas as notícias de progresso e boa governação que os estrangeiros sentem vergonha dos seus países.
Um dos países que mais se envergonha na comparação com o Brasil é a Suíça. O atual Presidente suíço já esteve preso e o anterior poderá também o ser, as favelas em torno de Genebra e Zurique não param de crescer, há escravatura nas fazendas dos Alpes suíços, os índios suíços são expulsos das suas terras, os polícias suíços formaram milícias para exterminar os traficantes de droga mas, agora, também a traficam, e, claro, nenhum suíço sai à rua sem um pitbull ou uma arma no bolso. A Suíça é um dos países com mais riquezas naturais – minérios, petróleo, florestas – mas, como é também o pais mais malgovernado desde o antigo Egito, a maioria dos seus cidadãos vive na pobreza, as desigualdades sociais são aberrantes e a corrupção faz parte do seu património cultural. A única desculpa dos suíços é o facto de estarem lá uns milhares de portugueses que, tal como fizeram no Brasil, estão a dar um forte contributo para arruinar o país.
Portanto, é lógico que o Brasil tenha horror a Portugal e queira apagar o passado colonial. O Pelourinho, Olinda e o Real Gabinete de Leitura – que coisas pavorosas quando comparadas com o exemplar urbanismo de Salvador, do Recife e do Rio de Janeiro. E quanto às universidades criadas pelos portugueses no Brasil, é melhor fechá-las porque, obviamente, só podem produzir analfabetos.
Felizmente, os atuais 203 milhões de brasileiros são riquíssimos, põem as emigrantes portuguesas a servir de babá e os emigrantes portugueses como boias frias, e não precisam das reparações que Portugal lhes deveria pagar.