Aproximam-se as eleições europeias. Há quem as considere uma segunda volta das eleições legislativas de 10 de março. Não creio. Do que se trata? De perceber como é que três meses depois das legislativas os portugueses estão a avaliar a coligação que governa o país e os partidos da oposição. Porém, não existe uma lógica mimética entre o que aconteceu no dia 10 de março e o que vai acontecer no dia 9 de junho. Objetivamente, a comparação terá que ser feita com os resultados de há cinco anos. Alguns dados significativos: Em 2019, as eleições europeias foram ganhas pelo Partido Socialista com 33 por cento dos votos. O PSD ficou em segundo lugar a uma grande distância do PS, obtendo 21 por cento dos votos. Paulo Rangel foi o cabeça-de-lista. É igualmente relevante sublinhar que nas eleições europeias a taxa de participação do eleitorado tem sido muito baixa. Tanto nas eleições de 2019 como nas de 2014, votaram cerca de 30 por cento dos eleitores inscritos, o que significa uma abstenção de 70 por cento. Apesar de nos restantes países europeus, existir um crescente interesse pelas temáticas europeias, Portugal mantém-se afastado desse debate. Então, o que há de novo este ano que tornam estas eleições impactantes tanto a nível nacional como a nível europeu? Do ponto de vista dos 27, temos uma guerra há 2 anos nas fronteiras leste do continente europeu. Pergunta: Como é que a Europa deve encarar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia nomeadamente no que respeita ao apoio financeiro e militar? Que unanimidade existe ou não quanto ao aumento dos orçamentos da defesa para 2 por cento dos respetivos produto interno bruto dos estados membros? A forma como as eleições europeias estão a ser encaradas como uma grande sondagem em alguns países ajuda a explicar situações inéditas e algo bizarras. Assim, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, do partido de extrema-direita ‘Irmãos de Itália’é candidata às eleições europeias como cabeça-de-lista muito embora tenha avisado os eleitores que não irá assumir o lugar de eurodeputada, em Estrasburgo. De igual modo, o principal partido da oposição, o partido democrático italiano, chefiado também por uma mulher, Elly Schlein, também comunicou que a sua líder será candidata nas eleições europeias mas, tal como Meloni, não irá para a Europa. O que estas duas mulheres pretendem é vincar as suas mensagens no espaço dos 27 e, simultaneamente, testar a força dos partidos que representam em Itália.
Também em França vai acontecer um acontecimento político semelhante. O presidente do partido de Marine Le Pen, o Rassemblement National, chama-se Jordan Bardella. Tem 28 anos e é deputado europeu desde 2019. Vai debater na televisão pública francesa com o primeiro-ministro Gabriel Attal. Tal como acontece no caso italiano, também em França, as eleições europeias funcionam como um barómetro para avaliar o sentimento das opiniões públicas quer em relação aos governos, quer em relação às oposições.
Em Portugal, teremos uma espécie de tira-teimas no dia 9 de junho. Com as sondagens a indicarem uma empate técnico entre PS e AD, é de prever que nos próximos dias o debate se intensifique. Nenhuma das formações quer perder estas eleições, embora seja prematuro antecipar leituras nacionais a confirmar-se uma diferença mínima entre socialistas e a coligação. Também ficará por avaliar a efetiva importância dos cabeças de lista na formação do voto. Retendo ainda os dados das últimas sondagens, se acontecer uma consolidação do voto no Chega ou até mesmo um crescimento, então nesse caso toda a retórica à volta do politicamente incorreto embaixador deixa de ter adesão à realidade, ficando para confirmar se os juízos mediáticos são um anticiclone ou se são apenas uma nuvem.