Como é que seria uma junção entre Mika e Harry Styles? Embora distintos em muitos aspectos, partilham algumas semelhanças notáveis que os conectam no panorama musical contemporâneo. Por exemplo, ambos os artistas são conhecidos pela sua versatilidade musical. Mika explora uma mistura de pop, glam rock e elementos teatrais na sua música, enquanto Harry Styles também incorpora uma variedade de géneros, incluindo pop, rock, e folk. Tanto Mika quanto Harry Styles são reconhecidos pelo seu estilo visual e performático distintivo. Frequentemente adotam uma abordagem extravagante e colorida nas suas apresentações e vídeos musicais, desafiando normas tradicionais de moda e género. Existem mais semelhanças, mas já temos a resposta à pergunta inicial e o seu nome é Nemo Mettler.
Este jovem venceu a Eurovisão, sendo que se tornou a primeira pessoa não-binária a alcançar o primeiro lugar no concurso. Agora, o artista – que recebeu um total de 591 pontos (365 do júri e 226 do público) – pretende alcançar outro marco: persuadir as autoridades suíças a reconhecerem designações de género não-binárias em documentos oficiais. «Na Suíça, não há opção para um terceiro género e considero isso completamente inaceitável», afirmou Nemo aos jornalistas após a vitória na Eurovisão. «Isto tem de mudar», frisou.
Quando questionado sobre quem contactaria primeiro após a vitória, o jovem de 24 anos – nascido em Biel, que com os seus 56 mil habitantes é a maior cidade bilíngue (alemão e francês) da Suíça – respondeu pronta e inesperadamente: Beat Jans, o ministro da Justiça da Suíça. «Precisamos de representação também na nossa política», enfatizou o jovem, expressando a esperança de marcar uma chamada com o ministro para discutir os direitos dos indivíduos não-binários. «É crucial que as pessoas se sintam reconhecidas», evidenciou o artista.
Um porta-voz de Jans confirmou na quarta-feira que o ministro respondeu aos comentários de Nemo com uma mensagem de texto, demonstrando vontade de se encontrar. «No domingo, Jans tentou ligar para Nemo e também enviou uma mensagem para parabenizar o cantor e confirmou a sua intenção de se encontrar. Ambas as partes estão atualmente à procura de uma data adequada», disse o porta-voz. Há cerca de 18 meses, o governo suíço rejeitou propostas para introduzir uma opção de terceiro género ou sem género nos registos oficiais, citando que o modelo de género binário ainda estava «fortemente ancorado» na sociedade suíça. Abordando duas propostas parlamentares, o Conselho Federal do governo declarou: «Atualmente não estão presentes as condições sociais para a introdução de um terceiro género ou para a dispensa geral da inscrição do género no registo civil».
O debate ressurgiu nos media suíços esta semana após a aclamação generalizada da canção The Code de Nemo, que explora a experiência pessoal do artista de transcender as normas de género. Em novembro de 2023, em entrevista ao jornal SonntagsZeitung, Nemo revelou que se identifica como não-binário. «Uma pessoa não-binária, que oficialmente não existe na Suíça, ganhou a Eurovisão 2024 para todos nós com #BreakTheCode», escreveu nas redes sociais a política do Partido Verde Sibel Arslan, que propôs designações não-binárias na Suíça em 2017. Arslan descreveu a proposta de 2017 como «mais relevante do que nunca», instando o Conselho Federal a «tomar medidas agora».
A ala jovem do Partido Liberal Verde ecoou este sentimento, afirmando: «É hora de a Suíça ir além da sua designação binária de género». Vários países, como Alemanha e Austrália, reconhecem indivíduos não-binários em documentos oficiais. A Alemanha permite que as pessoas se registem como «diversificadas», enquanto a Austrália oferece as opções de passaporte masculino, feminino e indeterminado. Nemo destacou ainda outra questão depois de terem surgido relatos de que alguns fãs viram as suas bandeiras do orgulho não-binárias confiscadas ao tentar trazê-las para a Suécia, país vencedor da Eurovisão no ano passado e que acolheu o festival este ano.
«É inacreditável», declarou Nemo, depois de agitar a bandeira suíça e a bandeira do orgulho não-binária no palco. «Tive de contrabandear a minha bandeira porque a Eurovisão disse não. Fi-lo de qualquer maneira». O artista chamou a isto um exemplo claro de «duplo padrão», acrescentando: «Talvez a Eurovisão também precise de alguns ajustes, de vez em quando». A Comissão Europeia criticou a proibição de o público agitar a bandeira da UE na grande final, chamando-a «completamente lamentável» e «alucinante».
Os organizadores da Eurovisão apontaram para a política de longa data que permite apenas as bandeiras dos países participantes e as bandeiras do arco-íris. «Devido ao aumento das tensões geopolíticas, a política da bandeira foi aplicada de forma mais rigorosa pela segurança no evento deste ano», afirmaram.