Muito além do seu comprovado papel na prevenção e tratamento de um conjunto fundamental de doenças crónicas não transmissíveis, a evidência tem sustentado que a prática de atividade física (AF) regular contribui para a promoção de emoções positivas, melhoria da função cognitiva, do rendimento académico, da qualidade do sono, do autoconceito e da autoestima física. O que nem sempre fica claro é que a prática de AF tem beneficios fundamentais não só para a sáude individual como também para a saúde do planeta, potenciando o desenvolvimento sustentável.
A este nível, em 2015, as Nações Unidas lançaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como um apelo universal para a proteção do planeta, da paz e da prosperidade até 2030. Estima-se que nesta data mais de 80% da população viva concentrada nas áreas urbanas. Tal gera desafios centrais, entre os quais degradação ambiental, iniquidades sociais, ordenação do território. Vários documentos estratégicos de agências internacionaistêmsublinhado o papel estratégico da AF na gestão destes desafios, permitindo ultrapassar vários simultaneamente: O planeamento virado para o aumento da AF configura então uma solução “win-win”.
Por exemplo, no que diz respeito aos ODS ligados à igualdade e inclusividade, melhores condições para mobilidade ativa são uma forma de lidar com a desigualdade, já que caminhar e andar de bicicleta são modos de mobilidade acessíveis. Os benefícios da AF no funcionamento cognitivo e na autoestima e confiança podem também ajudar a reduzir assimetrias sociais. A mobilidade ativa aumenta a interação no espaço publico, o que ajuda a prevenir solidão e estimular a coesão e integração social, reduzindo os sentimentos de isolamento e aumentando os skills inter-pessoais.
No que diz respeito aos beneficios ambientais a evidência é também crescente apontando para uma associação bidirecional entre a AF e as alterações climáticas e a sustentabilidade: O incentivo à mobilidade ativa e a redução do transporte motorizado têm impacto positivo sobre as emissões de dióxido de carbono, reduzindo o número e o tempo de viagem em cidades congestionadas. Por sua vez, a redução da poluição está ligada a maiores níveis de AF em espaço exterior.
De forma central, a AF contribui também para o desenvolvimento económico via dois mecanismos: i) ambientes facilitadores da mobilidade ativa impulsionam a prosperidade económica, uma vez que trazem um aumento do valor dos serviços e bens locais, criação de mais oportunidades de emprego e aumento nas vendas do comercio local; redução do congestionamento do tráfego (com reflexo nos custos para agregado familiar, empresas e sociedade); ii) por sua vez o aumento da AF está ligado à redução da mortalidade e morbidade em idade produtiva, e a um aumento da produtividade, particularmente por meio de menor absentismo, levando a ganhos económicos substanciais para a economia global.
Assim, os formuladores e decisores de políticas a este nível podem desenvolver medidas que têm o efeito de aumentar a AF como meio de alcançar outros objetivos centrais. É cada vez mais importante entender como as intervenções numa área podem ter um efeito muito positivo noutras, potenciando-se. De facto, os níveis de AF são fortemente determinados pelo ambiente físico e melhorias a este nível podem trazer benefícios significativos ao desenvolvimento sustentável. Os espaços públicos são de facto um dos catalisadores mais importantes das mudanças sustentáveis, permitindo a todos os seus utilizadores o direito ao tempo de lazer ativo, liberdade de expressão física e social.
Marlene Nunes Silva, PhD.
Professora Associada | Faculdade de Educação Física e Desporto, Universidade Lusófona
Diretora| Programa Nacional de Promoção da Atividade Física – Direção Geral da Saúde