Antecipando amanhã, 31 de Maio, que é Dia dos Irmãos, é excelente oportunidade para refletirmos sobre esta tão especial relação humana.
A palavra fraternidade vem do latim fraternitate. E esta palavra significa afeto, união, carinho ou parentesco entre irmãos; amor ao próximo; harmonia entre os homens. Com efeito, estamos diante de uma grande palavra da vida. Quando a fraternidade ‘dança’ no palco da nossa vida, fazemos um espetáculo nobre, belo, feliz, ao ritmo da exigência e do desafio. Neste sentido, são reconfortantes as palavras de Luigino Bruni: «A fraternidade é a frescura dada que acompanha a aridez da vida, que chega sem olhar às nossas virtudes e aos nossos méritos».
Existem vários ‘tipos’ de relações de irmãos: os irmãos de sangue; os cristãos; os irmãos de uma comunidade religiosa; os irmãos nas tradições religiosas; os amigos que se convertem em irmãos por causa da empatia, do tempo e da qualidade do tempo, entre outros tipos. Mas, nesta breve reflexão, vou procurar fazer a ponte entre a fraternidade natural e a fraternidade espiritual, a fim de apresentar uma perspetiva mais abrangente e inclusiva sobre esta realidade essencial.
O salmo 133 [132] é o salmo da fraternidade. Esta oração foi composta – ou, pelo menos, cantada – por uma mãe. Num dia de festa, talvez na noite de Pesah, uma mulher contemplou os seus filhos à volta da mesa, convivendo alegremente uns com os outros, e neste ambiente brotou no seu coração esta oração: «Oh! Como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia!» (Sl 133 [132], 1).
Segundo Santo Agostinho, as palavras deste salmo motivaram a construção dos mosteiros e impulsionaram a vida comunitária. Graças à sua tonalidade fraterna, alguns cristãos escolheram viver juntos. Desejo de Deus, desejo do Espírito Santo, desejo profético que começou na Judeia e se propagou por toda a terra.
Quando estamos com um irmão, o tempo desaparece e saboreamos, sem obstáculos, a eternidade. O tempo vivido com os irmãos amplia o nosso olhar sobre a vida. Por isso, a bênção que trazem os irmãos e as irmãs é uma bênção infinita. Mas a primeira fraternidade natural só é humanamente plena, se se cultivar a fraternidade espiritual. Só permanecemos irmãos e irmãs durante toda a vida se estivermos enraizados no amor.
A fraternidade é um dos estandartes da civilização do amor. Assim, esta civilização conquista mais território se a fraternidade no espírito for cultivada, fazendo a ponte entre o Céu e a terra: «O amor fraterno, como orvalho da manhã, é dom de Deus que atrai sobre nós as suas bênçãos e nos permite, neste mundo, fazer a experiência da vida eterna. É esse dom que faz viver os irmãos em harmonia».
A fraternidade liberta-nos de um quotidiano utilitarista e estreito em que a vida perde a sua respiração. Os irmãos são centelhas de fogo que nos iluminam, aquecem e desinstalam, proporcionando-nos uma aventura fecunda. Com efeito, quando entregamos a vida como dom é que ela se multiplica.
O Papa Francisco, na sua encíclica Fratelli Tutti, torna claro que o ser humano está feito de tal maneira que só se realiza, só se desenvolve, só encontra a sua plenitude no sincero dom de si mesmo aos outros. E só chega a reconhecer completamente a sua própria verdade no encontro com os outros. Portanto, a vida só subsiste onde há vínculo, comunhão, fraternidade.
Bom Dia dos Irmãos!