Quando as mães se encontram, à saída dos filhos da escola ou em algum acontecimento, começam a comparar agendas, o tamanho das olheiras e o Tetris que têm na cabeça, feito da conjugação quase impossível de horários, deveres, obrigações e voluntarismos. Consoante o número de filhos, a disponibilidade de horários ou as atividades que frequentam, poderão recomeçar o jogo todos os dias no nível máximo de dificuldade.
Antigamente os papéis estavam mais separados, os pais envolviam-se menos nas atividades dos filhos e as preocupações com estes eram mais básicas, até porque eles ainda não tinham o leque de solicitações e exigências que costumavam estar reservados aos adolescentes.
Hoje com três anos as crianças já têm festas de aniversário ao fim de semana e durante a semana vão aos treinos de futebol, karaté ou ballet. Com a mesma idade há uns anos os horários eram certos e invariáveis: estavam em casa, em casa dos avós ou então na escola, quando saíam geralmente era para fazer os programas dos pais. Pelo contrário, hoje as famílias regem-se e alteram ou anulam os seus programas para cumprirem os dos filhos. E, como se não bastasse, as mães, cada vez mais corajosas, voluntariosas, incansáveis e bem-intencionadas, querem abraçar tudo e não só não perdem pitada como não resistem a ‘deitar mais achas na fogueira’. Fazem parte da associação de pais da escola, dos grupos de mães, estudam com os filhos, organizam festas em casa, correm do trabalho para a escola e da escola para as atividades extracurriculares, para as explicações ou para as terapias onde às vezes ficam horas à espera; aos fins de semana vão aos jogos e aos saraus e pelo caminho vão comprar um presente para a festa a que o filho vai a seguir.
Como se não bastasse, muitas vezes organizam-se e juntam-se a outras mães igualmente dedicadas e determinadas em proporcionar uma infância inesquecível aos filhos e trabalham em grupo: fazem e vendem bolos e salgados para juntarem dinheiro para férias, festas ou torneios, juntam-se para comprarem presentes para as professoras, para fazerem surpresas para as professoras, para fazerem surpresas para os filhos ou então para contestarem o que não corre tão bem na escola.
Mesmo fora do trabalho, a cabeça (e o telemóvel) estão em constante funcionamento e preocupação com os filhos: com a agenda que têm, com a data dos testes, com o que ainda não sabem e deveriam saber, com o passeio a que queriam tanto ir mas não podem, com o que levar na lancheira, se é dia de levar mochila grande, média ou pequena, com os amigos dos filhos, com os inimigos, com as mensagens que eles recebem e que enviam pelo telemóvel, com o que veem na internet, se voltam inteiros do passeio da escola, se estão demasiado tempo fechados no quarto, se estão demasiado tempo na rua, se as notas chegam para ter 5 a tudo ou se chegam para transitar de ano.
São mães a 200%, sabem o que é melhor para os filhos e fazem tudo para que não lhes falte nada. Inevitavelmente, muitas vezes entre a certeza e a dedicação de fazerem o que sabem que é melhor para os mais novos, acabam por se esquecer do que é melhor para elas próprias.
Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
filipachasqueira@gmail.com