Os rebenta vidas

Certo é que, com qualquer um deles, o país só ficou ainda mais no rabo da Europa, lugar que hoje ocupa com louvor e distinção.

Do Presidente da República- zonzo com o éter demagogo e pretendendo lavar as falanges como Pôncio Pilatos da queda de António Costa-até Montenegro, não falta quem afiance à nação que seria muito benéfico para todos que o ex-PM presidisse ao Conselho Europeu. 

Vejamos. O outro António- o Guterres- foi Primeiro Ministro de Portugal de 1995 a 2002. Saiu porque estava tudo um pantâno, declarou. Para ele mesmo é que o lodo foi brando porque exerceu o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os refugiados de 1995 a 2015. Pouco tempo depois, seria eleito secretário-geral dessa mesma instituição, posição que assume até hoje. Belo percurso. Para o próprio, claro. É só fazer as contas.

A Guterres sucedeu Durao Barroso. Quando era  PM, coligado com Paulo Portas, foi mordomo da Guerra no Iraque, selada nos Açores. Aquele que era então conhecido como Cherne jurou solenemente perante os deputados ter confirmado a existência das armas de destruição em massa que, como era evidente, nunca existiram. Certo é que, prestando-se a servente de Blair e Bush, ganhou catapulta para a presidência da comissão europeia- na qual adveio um dos maiores lobbistas do mundo. Foi fácil passar  depois  a presidir à goldman sachs. Pagaram bem as reuniões “informais” que teve na Europa com os  lobbies farmacêuticos ou financeiros. Daí à Aliança Global das vacinas foi um fósforo. Agora cantam-lhe louros e loas, granjeia prémios e doutoramentis Honoris Causa. Está bem estofado.

Isto só para falar dos casos mais mediáticos e cimeiros. Afinal, há muitos outros como Deus Pinheiro segundo Comissário Europeu português, presidente do Conselho de Ministros do Conselho da Europa e do Conselho de Ministros da UE;  António Vitorino, com a pasta da Justiça e Assuntos Internos na Comissão presidida por Prodi. Já pela vice-presidência do Parlamento europeu passaram Cravinho,  Capucho, Pacheco Pereira, o próprio António Costa, Rui Amaral, Luís Marinho e Manuel dos Santos, Silva Pereira.

Certo é que, com qualquer um deles, o país só ficou ainda mais no rabo da Europa, lugar que hoje ocupa com louvor e distinção. E também não foi com  Costa-que encontrou no “parágrafo” o pretexto ideal para atirar a toalha ao chão- que de lá saímos. 

Seja no modo mais activista de Guterres, no jeito carreirista de Barroso ou na forma taticista de Costa, estão por apurar os benefícios que Portugal somou  com tanta promoção artística. Afinal, a taxa de crescimento anualizada da economia portuguesa desceu de 3,7% para 1,1% de 1998 em diante, estampando-se completamente. Já a nossa dívida pública medrou a galope desde o final dos anos 90 até ao princípio desta década. 

Portugal nem sequer granjeou prestígio ou credibilidade. Aliás, essa ideia pacóvia de que os estangeirados nos conferem progresso ou boa reputação fermenta no nosso país desde o século XVIII, quando, na verdade, é apenas mais um sintoma do nosso provincianismo bacoco. Uma parolada que as elites impingem ao povo. 

Ser presidente do Conselho Europeu  não é nenhuma honra nacional suprapartidária. Trata-se apenas de mais um político a fazer pela sua própria vidinha. A política portuguesa é um viveiro de fura-vidas, videirinhos e chicos-espertos. Impossível sobreviver-lhe.