Foi aprovada, na Assembleia da República, a proposta que previa que se passe a comemorar anualmente o 25 de Novembro, com a celebração de uma sessão solene no parlamento. Foi também aprovada a evocação do cinquentenário do 25 de Novembro no âmbito das comemorações dos também 50 anos do 25 de Abril.
Com o voto contra da esquerda e da extrema-esquerda, procedeu-se, assim e esta semana, à correção de um erro histórico – ou, se preferirmos, de uma obtusa teima que nos tentaram impor durante cinco décadas –, dando-se uma forte machadada na conhecida e reconhecida tentativa de controlo da narrativa histórica pela extrema-esquerda. Uma narrativa cansada, baseada na necessidade de tentar controlar o passado, como se disso dependesse a sua própria razão de existir (até porque, no fundo, sempre dependerá).
Todos sabemos dos factos: os ataques perpetrados pela extrema-esquerda às liberdades individuais e coletivas, no espaço que mediou as duas datas, foram constantes e são hoje tidos como matéria assente. De resto, basta lembrar o que ainda há poucos dias lembrava Zita Seabra: que ela própria, enquanto responsável da União de Estudantes Comunistas, aguardava, juntamente com outros jovens, a revolução armada (essa, sim, que iria substituir a Revolução de Abril), o ‘outubro querido’ por Cunhal, a confrontação violenta que iria apagar com o inimigo e que imporia um regime equivalente ao soviético em Portugal.
Ora, o 25 de Novembro – é também facto –, foi o fim de tudo isso.
O 25 de Novembro foi o dia em que se evitou que Portugal caísse numa guerra civil injusta e claramente injustificada. Foi o dia em que os tais ‘de outubro’ perceberam que não iriam avante. E não iriam avante porque havia quem a eles, determinantemente, se opusesse: não só os nomes a que sempre (e justamente) se alude, como o são os de Mário Soares, Ramalho Eanes, Sá Carneiro e outros vários e gloriosos corajosos, mas, também e sobretudo, a esmagadora maioria dos portugueses. Ontem, como hoje.
E, tudo isto, tem de ser lembrado, tem de ser celebrado, tem de ser afirmado e reafirmado.
Por muito que custe à extrema-esquerda, que, não por acaso, se vê cada vez mais reduzida no espaço político, Portugal é e quer ser um espaço onde o indivíduo importa; um espaço de pessoas livres, unidas na discordância e que respeitam e querem viver sob os princípios de uma democracia ocidental como é a nossa, devidamente integrada na realidade europeia.
Por muito que lhes custe, os portugueses não são a máquina irracional que lhes dava jeito. Não são gente manobrável nem, tampouco, peças de uma grande e pesada engrenagem, comandada por um comité de pequenos iluminados que vão beber a uma fonte de ideias inquinadas e que a história (outra vez a história!) já veio demonstrar à evidência que não só não funcionam como são, acima de tudo, geradoras de uma enorme e dolorosa destruição dos povos.
No entanto e apesar de tudo o que vem dito, havemos todos de notar o que também se percebeu por estes dias na Assembleia da República. Não pela surpresa (já não nos surpreendem), mas pela certeza. A certeza de que o PS de Pedro Nuno Santos é o PS que Mário Soares não queria. O voto contra do PS à celebração do 25 de Novembro é um erro. Um erro trágico.