Ao passar as ruas de Lisboa, vendo a imensidão de pedintes e enganadores de turistas, pergunto-me muitas vezes: onde estão as organizações de defesa dos animais? Onde estão as organizações defensoras dos direitos das crianças?
Pode parecer que usar a palavra pedintes para nos referirmos aos animais ou vice versa pode parecer ofensivo. Na verdade, deveria ser ofensivo chamar animal a um pedinte, mas é o que está a acontecer em Lisboa.
Na esquina do Rossio há uma mulher, semideitada no chão, com as saias esparramadas na calçada portuguesa. Em frente, está um coelhinho que, ruminando, aos poucos, lá vai comendo uns talos de couve. Ao lado, um cão deitado, a dormir! Impávido, mas penso que pouco sereno: aguarda-o um sem número de horas a pedir esmola.
É verdade! Nós poderíamos pensar que seria a senhora pedinte que estaria a pedir esmola e, para colmatar a sua solidão, trouxe, também, os seus animais. Mas o que está a acontecer, na realidade, é que são os animais que estão a pedir esmola e trouxeram a sua dona para os acompanhar. Sim, porque hoje, os animais estão a ser usado como meios de quebra gelo dos corações que já não vão nas cantigas do ladrão.
Pedintes, há muitos nesta cidade de Lisboa e por esse mundo fora. Aliás, o próprio Jesus veio dizer: ‘pobres sempre os tereis, mas a mim nem sempre me tereis’. Os pedintes já não nos vergam os nossos corações, mas os animais, sim. Por isso, hoje, os animais, em Lisboa, estão a ser usados para atingir os fins destes pobres pobres.
Podemos, até, pensar que estou a exagerar. E talvez esteja! Então vamos dar uma volta por Lisboa. Vamos entrar na Rua Augusta. À direita, como quem vai para o rio… um jovem com um cão, este grandito (cão, pois, veja-se). O papel já nem engana ninguém… ‘ajude este cãozinho’. Um pouco mais à frente está outra senhora, mas do lado esquerdo. Tem três ou quatro cães com cerca de uns três meses. Enfim… não param…
Esta utilização dos animais para atingir fins económicos, não irá contra os direitos dos animais? Será que somos assim tão inocentes que pensamos que estas pessoas estão munidas de cães e coelhos e etc.. para lhes fazerem companhia? Houve, até hoje, alguma associação de defesa dos animais que foi verificar as condições desumanas em que vivem pelo menos oito horas por dia aqueles bichinhos, ao sol, à espera que caiam as moedas?
Uma outra pergunta está ligada à criançada! O que tem a criançada a ver com os pedintes e com os animais? Lembram-se que há uns anos havia crianças que eram usadas para estes fins que estamos a apontar. Depois, começaram a não usar as crianças, porque o Estado começou a intervir… agora só aparecem com fotografias das crianças!
Mas o problema nem é tanto as fotografias, mas o que estes novos pedintes usam para lhes cair mais uma moedinha. Uma destas senhoras, vestida de palhaça, transporta nas mãos uns balões… são como espadas… e as crianças gostam dos balões… as palhaças vêm vestidas de palhaças e as crianças também gostam de palhaças…
Porém, as palhaçadas que fazem em Lisboa já me fizeram levantar a voz com uma palhaça que estava a fazer dos pais das crianças uns palhaços. Imaginam o que estava esta palhaça a fazer? Os casais de jovens, com crianças nos carrinhos, passeiam-se pela Rua Augusta ou pelo Rossio. A palhaça aborda a criança e oferece-lhe um balão… a criança fica extasiada e a palhaça começa, então, a fazer palhaçadas… e pede aos pais um eurito… eles dizem que não e o que fazem as palhaças? Tiram o balão à criança e seguem em frente, deixando os pequenitos com uma lágrima no olho.
Onde está a Comissão de Proteção de Menores, as organizações dos direitos das crianças e demais organizações que fizemos na nossa sociedade? Talvez seja bom começarem a defender aqueles para quem devem trabalhar…