Quo Vadis Europa?

As eleições europeias do passado dia 9 de Junho vieram alterar e bastante o cenário político no continente europeu. Vimos uma vitória do Partido Popular Europeu (PPE), que mantém a sua força enquanto maior família política do segundo maior parlamento do mundo.

Análise Descritiva dos Resultados Gerais:

A nível europeu estas eleições deram muito que falar, nomeadamente porque foram das mais participadas, onde 51,07% dos europeus expressaram o seu direito de voto, sendo que no que à geografia eleitoral diz respeito, o PEE, maior família política do parlamento europeu à qual pertence o PSD e o CDS-PP, como já acima foi referido, teve vitória em 12 dos 27 estados, sendo que se tem vindo a notar uma tendência de crescimento face às eleições de 2019, sendo que a família de centro-direita passou a ter 184 lugares no PE, um aumento de 6 lugares, sendo que em seguida está a família política dos Socialistas e Democratas ( S&D), família essa a que pertence o Partido Socialista, que ganhou em 2 estados-membros, sendo que um deles foi Portugal e o outro foi a Suécia. Relativamente ao grupo Renew Europe (Renovar Europa), grupo dos liberais europeus, ao qual vai pertencer a Iniciativa Liberal, ganharam igualmente em 2 países, na República Checa e na Eslováquia. Há ainda uma a família europeia dos S&D- Greens, que apenas ganhou nos Países-Baixos. Relativamente à família europeia dos Verdes, família essa onde o Livre e o PAN pertenceriam, estes apenas ganharam na Dinamarca.

No que à extrema- direita diz respeito, para já e até novo acordo que dite o contrário, existem duas famílias políticas de extrema-direita, a primeira são os Conservadores e Reformistas (ECR), de Giorgia Meloni, obtiveram vitória na Itália e o Identidade e Democracia (ID), a família política onde, atualmente o CHEGA ! se situa, ganhou em França, resultado esse que levou o presidente Macron a dissolver a Assembleia Nacional e a convocar eleições antecipadas.

O Caso Francês:

Tal resultado, no que à França diz respeito, é bastante significativo, uma vês que o Rassemblement National, partido de Le Pen, ganhou estas eleições com 31,37%, tendo ficado a uma distância de 16,77 pontos percentuais do partido do presidente Macron, sendo que dos 81 lugares Franceses no Parlamento Europeu, 30 são ocupados pelo ID ( Le Pen), 5 pelo ECR, 6 pelo PPE, 13 pelos liberais ( família política de Charles Michel, atual presidente do Conselho Europeu), tendo os grupos de esquerda conquistado os restantes lugares, onde 5 foram para os verdes, 13 para o S&D e 9 para o The Left. Principios que têm marcado a política externa francesa como apoio à Ucrânia, com a vitória dos partidos de vertente nacionalista, pode vir a estar a ser colocada em causa, na medida em que as posições do partido de Le Pen, e da lista liderada por Jordan Bardella foram legitimados por 7,7 milhões de franceses, sendo que este voto, na opinião do candidato “ foi dado pelo veredicto dos franceses, não pelo apelo”, tendo subido 8 pontos a mais que nas últimas eleições, em 2019 e 21 pontos adicionais em vinte anos.

É curioso perceber, como é que este voto é distribuído pela realidade francesa, sendo que de acordo com o Jornal Le Monde, começando pela capital, 11% dos inscritos em Paris para votar, optaram por esta força política, sendo que aumentou praticamente em todo o país, sendo o aumento mais significativo nos municípios chamados de “rurais»” de França, correspondendo a 20% dos inscritos, um dos exemplos é a cidade de Belbeuf, onde este partido passou de menos de 10% 2019 para 15% em 2024. Para além disso, o artigo ainda identifica o critério económico para o voto no RN, onde os municípios mais pobres foram os que mais reforçaram a votação neste partido.

É assim possível perceber que o voto no RN, como foi descrito pelo sociólogo Jérémie Moualek, Professor-pesquisador do Centro Pierre-Naville da Universidade de Evry, refere que o voto no RN é “ uma mensagem aos atores políticos e mediáticos que esta escolha dos eleitores não pode ser interpretada apenas como voto de protesto”, pelo que as pessoas não votam em forças desta natureza apenas por protesto, que também o existe, e arrisco-me a dizer que pode ser a maioria, no entanto, há outro grande fator a ter em consideração, o fator idade, onde o candidato Jordan bardella, do partido Rassemblement National tem 28 anos, sendo que mais nova só Camille Adoue, candidata pelo “parti des travailleurs”. Frequentemente na política europeia, e vendo a política de um posto de vista do jogo entre a oferta e a procura, o que os eleições mais pedem são candidatos jovens e competentes, ora o partido e questão soube resolver bem esta questão, reconduzindo o seu candidato jovem ao Parlamento Europeu, juntando à conjuntura de descontentamento dos franceses face às políticas do governo liberal de Macron.

O caso alemão:

Uma vez analisado o contexto eleitoral e político na França, outro dos países que também foi bastante falado foi o caso alemão, uma vez que o Chanceler Olaf Scholz , que pertence à família política dos socialistas e democratas (S&D), saiu derrotado por uma grande margem de cerca de 14 pontos percentuais, sendo que quem ganhou a eleição foi a CDU, partido da ex-chanceler Angela Merkel e da presidente Von Der Leyen.

Não deixa de ser curioso perceber o contexto político alemão que levou à vitória dos democratas-cristãos. Segundo o POLITICO, os dois principais candidatos do partido para as eleições europeias foram implicados numa série de alegações de má conduta, envolvendo suspeita de espionagem e potencial influência russa, tendo ainda espaço para o cabeça-de-lista Maximilian Krah, que defendeu que os membros das Waffen-SS de Hitler não eram criminosos “automaticamente”.

Também os verdes, que integram a coligação de poder com o SPD e os “Democratas Livres” ( FDP), também apresentam uma queda, sendo que a meu ver, estes resultados podem vir a gerar ainda um maior conflito dentro da coligação, podendo até causar dúvidas da sua estabilidade. Resta saber se Olaf Scholz vai adotar o mesmo caminho que Emanuel Macron, sendo que a AFD e o novo partido populista da Alemanha, o Bündnis Sahra Wagenknecht (BSW), que combina políticas económicas de esquerda com visões culturais de direita, pelo que pode apresentar um perigo para os partidos do centro moderado.

O caso português:

Relativamente ao caso português, ganhou o Partido Socialista, membro da família política dos socialistas europeus ( S&D).

Como é sabido, atualmente quem governa Portugal é uma coligação de centrodireita, a Aliança Democrática (AD), cujos partidos integrantes são o PSD, partido do Primei-Ministro, Luís Montenegro, e o CDS-PP. Sendo que este governo tomou posse há cerca de 4 meses, estava numa oposição, a meu ver complicada para ganhar as eleições, mesmo com a tentativa por parte do Governo de anunciar e inaugurar obras públicas e anunciar grandes projetos durante a campanha. Não há que fugir à realidade, aconteceu, foi uma tentativa de uma prova de força e vitalidade de um governo minoritário, que apesar de ter potencial, era bastante importante ter ficado com o 1º lugar nestas eleições.

A verdade, é que em termos de resultados, o PS liderou com 32,08% dos votos, seguindo-se logo a coligação de governo com 31,11, pelo que a margem foi curta, mas pode significar que o PS se está a consolidar enquanto partido da oposição, ao passo que o CHEGA, partido de André Ventura, teve um resultado bastante aquém daquilo que eram as expectativas, especialmente pela atual onda de crescimento da extrema-direita e da direita radical por toda a Europa, ficando-se pelo 3º lugar, com 9,79%.

No entanto, ao contrário de muitos comentadores e cronistas, não consigo concordar com a possibilidade de estes resultados terem uma leitura nacional, pelo facto de o Governo ter muito pouco tempo em funções, pelo que estes resultados não podem ser o espelho de uma má governação vs uma boa oposição, mas julgo que a vitória do PS se deu por estas eleições serem umas eleições de rostos e notoriedade. E creio que esta característica se tornou bastante evidente, na medida em que que por exemplo, a Iniciativa Liberal apostou num dos seus melhores quadros para garantir a eleição, a AD apostou em Sebastião Bugalho, jovem, independente, com presença mediática pela sua profissão, o PS escolheu Marta Temido e Ana Catarina Mendes e Francisco Assis, curiosamente todos possíveis candidatos à liderança do PS e rostos com notoriedade por diferentes motivos, Marta Temido, foi sobretudo pelo seu mediatismo e notoriedade enquanto ex-ministra da saúde num tempo bastante crítico para Portugal, marcado pela COVID-19. Também o Bloco de Esquerda apostou na sua ex-líder, Catarina Martins, uma figura que para além de consensual no partido e também com alguma popularidade devido às suas anteriores funções.

Já os partidos mais à esquerda, nomeadamente o Livre, o PAN e a CDU, embora os últimos tenham seguido a estratégia dos partidos anteriormente mencionados, a estratégia da “cara conhecida”. No caso do Livre, apesar de toda a polémica à volta do candidato Francisco Paupério, há que reconhecer que foi uma boa escolha de candidato, um candidato jovem, com ideias definidas, inteligente. Já o PAN, sinto que fez uma péssima escolha de candidato, uma vez que Pedro Fidalgo Marques se apresentou como alguém pouco preparado, com pouca experiência e carisma.

Para Portugal, a vertente europeia é fundamental, sendo que na sequência destas eleições, podemos vir a ter um português a chefiar o Conselho Europeu. António Costa, ex. governante do PS, foi oficialmente apoiado por Montenegro na noite eleitoral, sendo isso a meu ver, um excelente sinal para Portugal. Apesar de não concordar com as ideias de António Costa, reconheço-lhe qualidades profissionais e políticas para chefiar o Conselho Europeu.

Feita esta análise, torna-se necessário fazer uma reflexão sobre o futuro da Europa, torna-se necessário olhar para Europa e perceber porque é que ainda somos um continente que anda a duas velocidades, porque é que somos um continente onde para as eleições para o órgão representativo dos cidadãos em Bruxelas ainda há estadosmembros com taxas de participação muito baixas, sendo um claro exemplo disso o nosso país e por fim ainda perguntar que caminho queremos para Europa, um continente com uma guerra no seu solo e que cujos valores estão cada vez mais decadentes. Quo vadis Europa ?

Fontes Consultadas:

https://www.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2024/06/10/europeennes-2024-lerassemblement-national-progresse-partout-et-gagne-2-5-millions-de-voix-en-cinqans_6238485_4355770.html

https://www.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2024/06/07/qui-sont-les-candidats-auxelections-europeennes-de-2024_6190102_4355771.html#aubrymanon

https://pt.euronews.com/my-europe/2024/06/09/resultados-das-eleicoes-europeiasem-suspenso-no-fecho-das-urnas

https://results.elections.europa.eu/pt/

https://www.politico.eu/article/conservatives-finish-first-germany-eu-election-earlyprojection-cdu-csu/