As eleições europeias de domingo provocaram um autêntico terramoto político em França. Recordemos os resultados: – em primeiro, a extrema-direita do Rassemblement National de Marine Le Pen, que venceu destacada com 31,37% dos votos;
– a coligação liberal de Macron ficou num longínquo segundo com 14,60%;
– logo seguida pela coligação socialista com 13,83%, em terceiro;
– em quarto, a extrema-esquerda da França Insubmissa de Melhanchon com 9,89%;
– no quinto a direita dos republicanos de Ciotti com 7,25%;
– em sexto lugar os ecologistas com 5,50%;
– em sétimo a coligação de extrema-direita da Reconquista de Zemmour com 5,47%;
– no oitavo lugar a coligação comunista com 2,36%.
Logo que são divulgadas as primeiras projeções, o Presidente Emmanuel Macron faz uma fuga para a frente e surpreende com a dissolução da Assembleia Nacional e a convocatória de eleições antecipadas a 30 de junho e 7 de julho.
As eleições legislativas em França são diferentes das europeias. No domingo foi um sistema proporcional, agora o sistema baseia-se num escrutínio uninominal maioritário a duas voltas. O candidato que obtenha a maioria absoluta de votos está automaticamente eleito. Se nenhum o atingir, passam à segunda volta os candidatos que tenham obtido um mínimo de votos que ultrapasse 12,5% dos eleitores inscritos em cada circunscrição, sendo eleito o vencedor mesmo que com maioria relativa.
Estão pois em causa 577 eleições uninominais em que é essencial garantir, no mínimo, o acesso à segunda volta, pelo que se entende perfeitamente que se procurem acordos e coligações.
Nunca uma dissolução e um calendário eleitoral foi tão curto e ainda não tinham decorrido 48 horas e era anunciado um primeiro entendimento entre socialistas, ecologistas, comunistas e a extrema-esquerda. Um acordo leonino para a extrema-esquerda em que Melanchon concorrerá em 229 circunscrições, o PS em 175, os verdes em 92 e os comunistas em 50! Atente-se aos resultados de domingo e facilmente se compreende o desespero de socialistas e ambientalistas, que os levou a fazer cedências impensáveis à extrema-esquerda! Num ápice esqueram as acérrimas críticas e os insultos que acabaram de trocar na campanha eleitoral que agora terminou, as diferenças ideológicas insanáveis, as acusações de anti-semitismo! Para bater o ‘fascismo’ vale tudo! Uma Geringonça a fazer sonhar a esquerda nacional.
Obviamente são duas eleições distintas, mas não é menos verdade que domingo não tivemos uma sondagem mas uma amostragem real. Extrapolando os resultados, nos 577 círculos eleitorais assistiríamos a 536 autênticos duelos entre os candidatos de Le Pen e os desta ‘Frente Popular’. As listas da extrema-direita ‘assegurariam’ a passagem à segunda volta em primeiro lugar em 458 dos 577 círculos (em 79%!) as da extrema-esquerda em 48, as macronianas em 39, as socialistas em 30 e as republicanas em 2!
Ciente deste cenário, e face à aclamada Frente de Esquerda, o Presidente dos Republicanos, Eric Ciotti, assinou um acordo com o Partido de Le Pen em que este apoiará 80 candidatos de direita. Sacrilégio! Como é possivel, como se atreveu?! Fazer um ‘Pacto com o Diabo’!? Uma ‘Traição’ à Quinta República! O jornal Liberation faz capa de página inteira com a fotografia de Ciotti e a palavra ‘Vergonha’ em letras garrafais!
Ainda não chegaram notícias da instalação duma guilhotina na Esplanada do Louvre, mas a Direção dos Republicanos já decapitou Ciotti, violando as regras estatutárias do Partido, mesmo que as sondagens indiquem que metade dos seus membros apoiam a sua iniciativa. A primeira consequência da dissolução será seguramente a cisão dos Republicanos!!!
Ciotti entende que está na hora de dizer NÃO à hipocrisia de dois pesos e duas medidas! A esquerda pode juntar-se à extrema-esquerda, esquecendo os gulags comunistas, a memória só é recordada nos odiosos crimes do fascismo. À direita é interdito o que é permitido, mesmo aplaudido, à esquerda!!! É assim a democracia que a esquerda apregoa! A História está cheia de exemplos de como a extrema-esquerda, sempre que teve tal oportunidade, suspendeu brutalmente a liberdade e a democracia. Mas só se vilipendia quando tal é feito pela extrema-direita!!
É certo que toda esquerda sempre teve um pavor que chegasse o dia em que os cordões sanitários e as linhas vermelhas entre a direita e a extrema-direita fossem derrubados e apagados. Era o fim de outro monopólio que queriam preservar! Pois em França o pesadelo da esquerda virou realidade!
E tal como Lenine escreveu, nem faltaram à direita os ‘Idiotas Úteis’ do costume, alardeando uma superioridade moral que a esquerda finge aplaudir porque, no fundo, serve exclusivamente os seus interesses.
Coitados…!
