Eubituário: Gehrard Aigner. O alemão suave

O Tempo é impiedoso e irreversível. A cada mês que passa aumentam os meus mortos.

BOCHUM – Antes do Espanha-Itália, na Arena de Gelsenkirshen, fez-se um minuto de silêncio em memória de Gehrard Aigner, antigo Secretário-Geral da UEFA, agora desaparecido aos 80 anos. Conheci Gehrard pouco tempo depois de ele ter sido eleito para o cargo (22 de Setembro de 1989), através do nosso amigo comum António Florêncio, também ele já encantado, como diria Guimarães Rosa. Era afável, característica  nem sempre é fácil de encontrar num alemão – nasceu em Regensburg mais conhecida por Ratisbona, na Baviera, confluência do Danúbio, do Naab e do Regen, no dia 1 de Setembro de 1943. Durante o seu mandato (o cargo mudou de nome em 1999 para ser chamado de Chefe-Executivo) foram muitas as vezes em que podemos conversar e sempre se mostrou um homem sem vaidades, sempre disponível para os contactos com A Bola, jornal de qual eu era na época editor da  secção internacional. Um alemão suave. O velho jornal da Travessa da Queimada privilegiou as relações institucionais tanto com a UEFA como com a FIFA e tinha, em compensação, as portas abertas da seda da Confederação Europeia (e da Mundial também), primeiro situada em Berna e, mais tarde, transferida para Nyon. Fiz várias entrevistas (e presenciei diversos congressos) com Gehrard, que era braço-direito do sueco Lennart Johansson, presidente da UEFA, outra figura com que vim a ter contactos frequentes e que me foi apresentado pelo meu querido e saudoso José Vidal, correspondente de A Bola na Suécia e senhor de muitos mundos. Quando, em 2003, Gehrard Aigner abandonou  o posto que ocupava, já a candidatura de Portugal à organização do Euro-2004 fora aceite. Na fase em que trabalhei para a organização do torneio, continuámos a falar com frequência, muitas vezes apenas por cortesia. O Tempo é impiedoso e irreversível. A cada mês que passa aumentam os meus mortos. Talvez Gehrard não seja alvo de muitos obituários, aí em Portugal, mas fica certamente aqui registado no meu «eubituário» juntamente com saudades de anos únicos da história de  um jornalismo que parece, também ele, cada vez mais moribundo.