Li hoje (31 de Maio) no SOL, em letras garrafais, um título alarmante: Criminalidade esconde nacionalidades. Este título deriva do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), que, ao contrário do que geralmente se diz, regista um aumento da «criminalidade geral» bem como da «criminalidade violenta e grave».
Não é este aumento que me choca, embora seja preocupante. O que me choca é ficar a saber que o RASI omite informação que seria de utilidade para as polícias garantirem a nossa segurança. Um oficial de polícia diz mesmo ao SOL que o RASI «é um queijo suíço cheio de não informação.» Outro oficial de polícia explica: «O RASI é um documento mais político e ideológico do que outra coisa qualquer. […] É um relatório muito omisso em muitos aspectos que podem ser essenciais para combater o crim». Sempre segundo fonte da polícia: «Houve uma orientação no sentido de não se estigmatizar as etnias e as nacionalidades», tendo havido um entendimento «com a comunicação social para que não usasse a questão do cigano, do turco e por aí fora». Não ficamos por aqui: «Agora a polícia já não coloca as características da pessoa, e tenta-se não pôr a nacionalidade para não chocar.» Consequência: «Dessa forma como é que sabemos como prevenir?».
Vivemos numa época em que até a simples menção da nacionalidade ou, sobretudo, da etnia de uma pessoa pode ser ofensiva; o Woke já chegou à Polícia portuguesa! A doutrina Woke, nascida nos Estados Unidos, onde floresce, e que entretanto já invadiu as Universidades europeias, estabelece que todos os brancos – todos – são, por definição, racistas. Por maioria de razão, são ainda mais racistas os que se limitam a nomear uma etnia ou uma nacionalidade.
A emergência, difusão e sucesso do Woke é algo enigmático. Deixemos agora os Estados Unidos de parte e concentremo-nos na Europa. Quem diria que os herdeiros de Montaigne se afundariam nesta miserável ninharia intelectual ? No século XVIII/XIX e XX a Europa foi grande, sem complexos. Pelo contrário, era uma espécie de farol intelectual e cultural do Ocidente. A lista do que se lhe deve, das Artes à Ciência, passando pela Literatura e pela música, é interminável. Também na Economia fez prodígios, transformando o Continente na área mais rica do Mundo (excepto os EUA, de que aqui não me ocupo). Para não mencionar os Direitos Universais do Homem, nascidos da Revolução Francesa de 1789 e que, século e meio mais tarde, conduziram a outro feito de que nos podemos orgulhar, o nascimento do Estado Social, de que hoje beneficiamos como algo de evidente e garantido. E, last but not least, mencionemos a Liberdade e a Democracia.
Fomos um Continente feliz!
Livre, seguro, abastado e feliz. Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, essa abastança só muito marginalmente se ficou a dever às colónias. O Estado, esse sim, arrecadou através do fisco umas quantias significativas, e usou as colónias como símbolo de grandeza. Mas o bem-estar que alcançámos deve-se ao dinamismo económico da sociedade. Porém, o colonialismo é hoje visto – anacronicamente – como um pecado sem remissão. E os wokes & Cia pretendem – exigem – que o espiemos.
E, sinal de um irremissível declínio, a Europa interiorizou essa culpa e tudo faz para ser perdoada. Até o Relatório Anual de Segurança Interna se verga. Estamos a bater no fundo.