Maternidade

Querida avó, Fui, finalmente, conhecer o Museu do Lactário, que fica situado no Largo do Museu de Artilharia, nº2, em Santa Apolónia, Lisboa. Andava há anos para o conhecer. A primeira vez que ouvi falar deste Museu foi no programa Visita Guiada, da RTP2, belissimamente apresentado pela Paula Moura Pinheiro. Este espaço foi criado pelo…

Querida avó,

Fui, finalmente, conhecer o Museu do Lactário, que fica situado no Largo do Museu de Artilharia, nº2, em Santa Apolónia, Lisboa. Andava há anos para o conhecer. A primeira vez que ouvi falar deste Museu foi no programa Visita Guiada, da RTP2, belissimamente apresentado pela Paula Moura Pinheiro.

Este espaço foi criado pelo Coronel Rodrigo Aboim Ascensão, para combater a taxa de mortalidade infantil, que no final do XIX e início do século XX, em Portugal, era bastante elevada.

Este Lactário tinha como principal finalidade melhorar as condições de vida das crianças de Alfama, onde residia uma população com evidentes carências alimentares e deficientes condições habitacionais.

Tratava-se de um modelo inovador e com uma oferta inédita em Portugal: distribuição de leite de qualidade controlada às crianças no período de lactação e apoio pediátrico.

O espólio do Museu divulga a história do Lactário e o desenvolvimento da sua atividade. Vale bem a pena visitar este espaço e conhecer o seu acervo, do qual fazem parte as primeiras incubadoras do país para bebés prematuros, para além de muitos outros objetos.

O Lactário alimentou, gratuitamente, centenas de milhares de crianças. Deu-lhes acompanhamento pediátrico e transformou o comportamento das mães e das avós.

Para que não existisse falta de leite, existiam vacarias junto ao edifício onde o leite era colhido e devidamente tratado.

A vacaria esteve ativa até 2006, imagina. Hoje, no local da vacaria, existe um infantário onde se continua a seguir a estratégia do fundador, cuidar das crianças.

Hoje, encontramos nas Farmácias e Supermercados inúmeros tipos de leite. No entanto, não há nada que chegue ao leite materno. A minha mãe diz que, quando nasci, para além de mim, amamentou outros recém-nascidos, na Maternidade Alfredo da Costa.

Bjs


Querido neto,

Uma coisa que as mães gostam de recordar, independentemente da idade dos filhos, são: “As Gracinhas dos Nossos Filhos”. Quando o meu filho era miúdo – claro que os nossos filhos são sempre miúdos, mas, neste caso, miúdo mesmo, para aí oito, nove anos – viajava muito.

Jogador de xadrez, viajava muito com a Federação para participar em campeonatos por esse mundo fora. Então, pedia-lhe que, onde quer que estivesse, me mandasse um postal com as notícias (onde é que ainda vinham os telemóveis…).

Coisa que ele cumpriu sempre.

Por isso há muitos anos que guardo um lindo postal de Valladolid, onde ele escreveu: «Mãe, não tenho nada para dizer». Mas cumpriu a promessa e isso é que era importante.

E fui juntando postais e postais mais ou menos como esse.

Até que ele foi crescendo e o teor dos postais ia variando ligeiramente.

Uma vez, estava ele a fazer Erasmus na Alemanha, ainda lhe tentei ensinar alemão, mas ele não estava para aí virado. Só consegui que soubesse dizer, em alemão, «um café, por favor», para quando parasse nos apoios de estrada (naquele tempo nem podia ouvir falar em avião e ia sempre de carro).

Um dia decidi ir com ele até à Alemanha e, quando parámos no seu habitual apoio de estrada, disse, no alemão mais correto «um café, por favor» (ein Caffe, bitte) – ao que o senhor respondeu com a única coisa que sabia dizer em português: «cabo de São Vicente».

Um dia, já mais velho, em Amsterdão, num intervalo dos jogos, num postal com a célebre rua das meninas, escreve apenas (nunca levava muito tempo na escrita…): «Mãe, isto aqui é como cantava o Zeca Afonso, “em cada esquina uma amiga”».

E até hoje tem sempre explicação para tudo.

Grande obra a do Coronel Rodrigo António Aboim Ascensão. Já ouvi falar do Lactário, mais ainda não tive oportunidade de o visitar.

Bjs