Stanley chamava-se tanto Stanley como Greta Garbo se chamava Garbo. Podiam ser os dois bem apessoados mas a sueca nascida Greta Lovisa Gustafsson era muito mais do que isso. De tal ordem que há muita gente que julga que por causa dela se inventou o adjetivo garboso. Foi ao contrário: os seus agentes, convencidos de que o nome Greta Gustafsson não fazia furor nos cartazes de cinema, aplicaram-lhe o cognome de Garbo, vindo da palavra italiana que exemplifica um modo cortês de se comportar. Por seu lado, Stanislaw Franciszek Musial também tinha muito de garboso, ele que viveu a infância no tempo em que Greta, a garbosa Greta, fazia furor por entre os representantes do sexo masculino.
Um Stanislaw não surge de geração espontânea lá pelos cafundós de Donora, no condado de Washington, Pennsylvania. Traz consigo sangue de emigrantes, isto tão certo como ser filho de um polaco, Lukasz Musial, que trabalhava na American Steel and Wire Company, e de uma cárpata, Mary Lancos. Nasceu no dia 21 de novembro de 1920, quinto de seis filhos, e Lukasz teimou em tratá-lo pelo diminutivo de Stasiu, que na verdade se pronuncia Stashu. Ficou destinado a ser uma figura do basebol a partir do momento em que caiu sob a alçada do vizinho do lado, um tal de Joe Barbao, que o levou a treinar numa liga para menores. Stashu era, nesse tempo, um venerando adepto de Robert Moses Grove, conhecido por Lefty Grove por ser canhoto, estrela da Major League Baseball jogando primeiro no Philadelphia Athletics e, depois, no Boston Red Sox.
Ora, dava-se o caso de Stanislaw ser igualmente canhoto e ganhar com isso um ídolo para seguir até onde pudesse e a fortuna e o talento o levassem. Levaram-no longe, mais longe até do que Lefty Grove. Mas, antes de começar a carreira tratou de encontrar um nome, por assim dizer, mais garboso: Stanley Frank Musial, ou mais simplesmente Stan Musial. Aos 15 anos já Barbao o tinha enfiado numa equipa semi-profissional chamada Donora Zincs e que era treinada pelo próprio.
O problema de Musial é que nunca estava verdadeiramente contente com coisa alguma. Ou talvez não tenha sido um problema, se não não estava aqui a gastar o meu latim com ele. Ao mesmo tempo que passava a ser ‘pitcher’ do St. Louis Cardinals, apaixonou-se pelo basquetebol e fazia questão de jogar pela sua equipa do coração, a Donora High School. Assente-se que, ao tempo, por causa dos calendários, o basquetebol servia para que muitos jogadores de basebol e de futebol americano se mantivessem em forma durante as paragens dos respetivos campeonatos. De qualquer forma, os Cardinals não lhe pagavam um cêntimo e mantinham-no como amador numa equipa completamente profissional, algo que mexeu com o brio polaco do pai Lukasz que tratou de se declarar um opositor feroz em relação à ligação do filho com o basebol. Stan fez-lhe um choradinho, ajudado pela mãe e pelas quatro irmãs, e acabou por ir parar aos Williamson Red Birds, um clube da medíocre Mountain State League e filial dos Cardinalls. Não era nenhum luxo, o que ainda irritou mais mr. Musial. Enfim, mais de meio universo sabe que para se chegar ao topo é preciso começar pelo rés-do-chão da vida. O tempo passou, irreversivelmente como só ele, e Stan Musial transformou-se numa das maiores figuras do basebol americano, ombreando com gente do calibre de Lou Gehrig ou Babe Ruth, também eles canhotos. Fixou-se na equipa principal dos Cardinalls e transformou-se no ai-Jesus dos adeptos que gritavam histéricos sempre que ele entrava em campo: «Here comes the man!». A imprensa não tardou a aproveitar o berro da maralha e chamar-lhe ‘Stan the Man’. Ganhou tudo o que havia para ganhar, bateu recordes atrás de recordes, e pôde ouvir da boca de outro dos grandes monstros, Ty Cobb, antigo jogador dos Detroit Tigers e dos Philadelphia Athletics, mais tarde treinador e comentador, um elogio de se lhe tirar o chapéu: «No man has ever been a perfect ballplayer. Stan Musial, however, is the closest to being perfect in the game today…».
Em 1963 resolveu deixar de jogar. Nesse mesmo ano, no dia 13 de novembro, foi convidado para um famoso jantar na Casa Branca pelo Presidente John F. Kennedy. Foi aí que conheceu Greta Lovisa Gustafsson, dita Garbo. Nove dias depois, em Dallas, Kennedy estava morto com um tiro na cabeça. Stashu continuava descontente e escreveu-o nas suas memórias: «Se tivesse de recomeçar tudo de novo, continuaria na universidade em vez de jogar basebol. Apesar de o basebol me ter tratado de uma forma maravilhosa, falta-me qualquer coisa. Chamem-lhe complexo de inferioridade, se quiserem, mas sinto sinceramente que um Homem para o ser precisa de uma boa educação escolar». Ou seja, nunca perdeu o garbo.