A esquerda radical não gosta de pessoas

A insensibilidade perante as pessoas, suas necessidades, ambições e sua felicidade é uma marca destes novos populistas, de esquerda ou de direita.

Sabe-se, há muito, que o dito ‘socialismo científico’ dava muito mais importância à máquina (o ‘sistema’) do que às suas partes (as pessoas). Não era por simples acaso que naqueles regimes não existiam verdadeiros cidadãos: mais do que direitos individuais, havia obrigações para com o sistema que deviam servir.

A queda do bloco de leste matou o socialismo científico, mas não matou nem os seus ideólogos, nem os que, mesmo sem perceber em toda a extensão a sua ação, servem a causa: por modismo ou necessidade, foram reciclados.

No atual mandato, temos lidado com a ascensão deste fenómeno em Oeiras. Apesar deste ser o Concelho da Área Metropolitana de Lisboa no qual os populismos têm tido os resultados eleitorais mais baixos, não deixam de fazer barulho e de obter reverberação na comunicação social, particularmente através de alguns jornalistas que, percebendo ou não, servem a causa.

Há, nisto, uma dimensão que respeita à luta política, o que faz parte da normalidade. Ideias, ideais, propostas ou caminhos distintos são normais em democracia, ou esta não seria necessária. Mas há uma novidade muito interessante: tal como o líder do populismo de direita não tem problemas em afirmar, na Assembleia da República, que com eles ‘não haverá humanismo que resista’, significando um retrocesso civilizacional monstruoso, também os populistas de esquerda, com máscara mais fofinha, são inimigos do nosso modo de vida.

Nos exemplos que se seguem, em Oeiras, conseguimos perceber o ponto.

Há algum tempo, o Executivo Municipal, para aprovar a construção de 35 fogos de habitação municipal, para pessoas que precisam de casa, necessitou de desafetar 70 metros quadrados de reserva ecológica nacional. Resultado: o populismo de esquerda votou contra. Apesar dos discursos a favor da habitação, para eles as pessoas – particularmente as socialmente mais frágeis – não são assim tão importantes. É preciso perceber: a ‘esquerda caviar’ não precisa de casa.

Mais recentemente, a Câmara votou a favor de atribuir um pequeno apoio para publicação de um trabalho de estudantes do ensino secundário sobre o Holocausto. Resultado: o populismo de esquerda votou contra. Apesar de ser Ventura quem fala contra o humanismo, na prática, o que separa quem vota contra a publicação de um trabalho de estudantes sobre o Holocausto, do líder do populismo de direita? Nada, são duas faces da mesma moeda.

Ainda mais recentemente, nas redes sociais da esquerda radical local, lemos críticas ao investimento municipal nas festas do Concelho, dizendo que o cartaz é muito caro. Ora, as festas, além de se constituírem cada vez mais como uma montra de Oeiras, são a oportunidade que damos a muitos dos nossos munícipes, particularmente os com menos posses, de verem os seus artistas preferidos. Promovemos os artistas nacionais e o acesso à cultura para todos. Uma vez mais, para os populistas da esquerda isso parece não ser muito importante. A ‘esquerda caviar’ não precisa de festas de acesso livre (até porque não lidam maravilhosamente bem com a Liberdade).

A insensibilidade perante as pessoas, suas necessidades, ambições e sua felicidade é uma marca destes novos populistas, de esquerda ou de direita. Não querem o bem das pessoas, querem o bem da causa ou do seu modelo alternativo.

É preciso que os democratas estejam atentos, e é preciso que os jornalistas, quando tratam como democratas quem não é, percebam quem afinal estão a servir.