FRANKFURT – Há muito tempo que não me deitava na relva, à sombra de uma árvore, simplesmente a ouvir música, sem sentir necessidade de estar noutro lado qualquer, com pressa para alguma coisa que não mereça a minha urgência senão a de escrever, a de escrever sempre, de escrever a minha vida e a do mundo que me rodeia. Estou parado, uma fímbria de sol brilha por entre as folhas desacertadas pela brisa da tarde, deve haver um deus qualquer que seja o deus das folhas e o deus do sol, o deus das árvores e da relva, o deus que me permita não pensar em nada a não ser na música que me embala a alma apenas pela reverberação dos ouvidos. «E pur si muove!», gritaria Galileu estragando o momento. Sim, ela move-se. A 1.666 quilómetros por hora em redor de si própria. A 107.000 quilómetros por hora em redor do sol. Vivemos numa vertigem apesar da quietude. Concentro-me para sentir esse violento rodar universal, para sentir como as rodas dentadas dos astros rangem no esforço de se encaixarem na mecânica da vida. Estou parado e não estou parado porque o Tempo não deixa. O sol libertou-se de uma frincha de árvore e encaixou-se noutra, mais abaixo. A tarde caminha para o fim. «Ecco. La musica è finita, gli amici se ne vanno…» Sim, é verdade, os dias passam devagar. Os anos é que passam a correr.
E, no entanto, ela anda
Os dias passam devagar. Os anos é que passam a correr