O primeiro mandamento das tábuas da lei do Wokismo é enunciar as misérias do Ocidente. O segundo mandamento é instar os ocidentais a envergonharem-se e a pedirem desculpa. O terceiro mandamento é «quietinhos e caladinhos porque isto não se discute!». Apesar de entroncar no relativismo pós-modernista, o Wokismo descobriu a forma de impor a verdade absoluta. É assim: não podemos julgar os outros povos segundo conceitos ocidentais, como os direitos das mulheres, porque isso é relativo; mas podemos julgar os ocidentais seja de que maneira for. Ou seja, a misoginia de As Mil e Uma Noites, não é misoginia, é uma forma diferente de tratar as mulheres; porém, o racismo contra os mouros de Os Lusíadas é mesmo racismo. Quando se usa esta metodologia científica, tudo se torna claro e irrefutável.
Contudo, podemos esquecer o passado e concentrarmo-nos no presente. Porque no resto do mundo sucedem-se avanços civilizacionais que o Ocidente não acompanha.
Em Teerão, numa iniciativa promovida por um Aiatola vestido de cor de rosa, um milhão de pessoas manifestou-se a favor dos direitos LGBTQIA+. O evento decorreu num clima de festa e alegria, tendo os guardas da revolução, com plumas na cabeça e calções de couro, agitado bandeiras arco-íris e lançado flores sobre a multidão. A emoção foi tanta que nasceu barba nalgumas mulheres e apareceu a menstruação a alguns homens. Como era de esperar, as televisões ocidentais não mostraram nada.
Em Riade, nas celebrações do Dia da Mulher, as ruas foram inundadas por milhões de mulheres e homens que se sentiam mulheres, umas vestidas com minissaias, outras com os seios descobertos, outras nuas com pilinhas ao léu, a dançarem e a beberem champanhe, festejando o seu domínio matriarcal na sociedade saudita, as leis que lhes permitem ter haréns masculinos e pôr homens a correr contra camelos (ambos montados por mulheres). Foi lindo, mas os media ocidentais censuraram a festa.
Em Doha, um milhão de emigrantes asiáticos celebrou os direitos sociais, a proteção laboral e os elevados salários que o Qatar lhes proporciona. Conduzindo Mercedes e Lexus, estes emigrantes declaram aos jornais que nem a mãezinha os tinha tratado tão bem e avisaram os cidadãos dos seus países de que era perigoso emigrar para as ditaduras ocidentais. Nova censura nas nossas tiranias.
Em Pequim, dois milhões de pessoas encheram a Praça Tiananmen para prestar homenagem às vítimas do massacre de 1989, tendo o presidente Xi Jinping feito um pedido de desculpas pelos crimes cometidos pelo Partido Comunista. Os deputados dos outros partidos aplaudiram o discurso, mas não deixaram de o censurar. Envergonhado, com um cartaz de autocrítica ao pescoço, Jinping pediu a demissão e disse que iria dedicar-se a causas humanitárias e à preservação dos pandas.
Talvez um dia semelhantes exemplos de liberdade e progressismo também sucedam nas cidades europeias e americanas. Mas, por enquanto, vivemos tempos sombrios onde as mulheres e as minorias sexuais são espezinhadas, os emigrantes tratados como escravos e as ditaduras o modo de governo.
Envergonha-te ó Ocidente.