Enquanto a França se prepara para a segunda volta das eleições legislativas deste domingo, o partido União Nacional, RN na sigla em francês, de Marine Le Pen anunciou que, mesmo que não consiga uma maioria absoluta, tentará formar um Governo maioritário atraindo aliados do Partido Republicano para apoio parlamentar.
O anúncio surge depois de o RN ter vencido a primeira volta das legislativas, derrotando a coligação Nova Frente Popular (NFP) e o partido do Presidente Emmanuel Macron. A expetativa é que a RN volte a vencer, ainda que por pouco, no domingo.
Numa tentativa de privar a RN de uma maioria de 289 lugares na Assembleia da República, a aliança de Macron trabalha para retirar alguns dos seus candidatos do terceiro lugar elegível e a NFP_disse que retirará todos os seus candidatos. O objetivo é que a escolha seja apenas entre o deputado do partido de Le Pen e um outro, de forma a evitar a maioria absoluta do RN.
A tentativa vem na sequência da afirmação de Marine Le Pen que o seu partido só lideraria o Governo se obtivesse uma maioria absoluta – ou perto disso. A maioria dos votos obtidos na primeira volta das eleições legislativas antecipadas de 30 de junho é insuficiente para obter uma mairia absoluta que permita a formação de um Governo estável.
«Não podemos aceitar entrar no Governo se não pudermos agir», disse Le Pen numa entrevista à emissora pública France Inter. «Seria a pior traição aos nossos eleitores». No entanto, acrescentou: «Se tivermos, digamos, 270 deputados, e precisamos de mais 19, vamos ter com outros e perguntar-lhes se estão dispostos a participar connosco numa nova maioria».
A primeira volta colocou o RN_mais perto do Governo do que nunca. Mas também deixou em aberto a possibilidade de bloqueio ao caminho deste partido para o poder .
Um número sem precedentes de candidatos da NFP e da aliança já desistiram e esperam assim favorecer o candidato com mais probabilidades de vencer um adversário do RN. Entre os candidatos que abandonaram a corrida estão vários ministros do atual Governo.
Segundo uma contagem do jornal francês Le Monde, mais de 200 candidatos já desistiram, a maior parte provenientes da coligação de esquerda. «Hoje temos um objetivo, negar uma maioria absoluta ao Rassemblement Nacional», disse François Ruffin, do partido França Insubmissa, que faz parte coligação NFP, a par dos verdes, socialistas e comunistas.
Centristas sem consenso
Durante, a campanha eleitoral, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, disse ser «preciso impedir que o Rassemblement Nacional alcance uma maioria absoluta na Assembleia Nacional porque seria– e digo-o do fundo das minhas entranhas – seria terrível para o país e para os franceses».
No entanto, esta posição não é consensual entre os centristas, que consideram que a França Insubmissa – partido líder da NFP –, cuja plataforma inclui gastos públicos maciços num país já profundamente endividado, representa um perigo igual ou até maior do que o de Le Pen.
O próprio Emmanuel Macron passou grande parte desta campanha a criticar as políticas da aliança da NFP como «grotescas» e destrutivas para a França, levando à sua bancarrota.
O campo pró-Macron também criticou a França Insubmissa pela sua oposição à guerra de Israel em Gaza, o que levou a acusações de anti-semitismo. Já o RN é frequentemente acusado de estar impreparado para o Governo e de ser incoerente na política económica, ao mesmo tempo que promove medidas divisivas em matéria de imigração.
O Presidente Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições antecipadas depois de uma derrota esmagadora nas eleições para o Parlamento Europeu. Desta forma, o chefe de Estado francês arriscou que a RN_não repetisse os bons resultados das europeias em eleições que pusessem em jogo o destino do país.
União Europeia
Mas o plano de Macron saiu pela culatra. O Presidente francês é agora acusado de abrir uma porta para o RN, partido que está a fazer campanha numa plataforma que promete aumentar o poder de compra, reduzir drasticamente a imigração e adotar uma linha mais dura sobre as regras da União Europeia (UE).
Entretanto, e para a UE, Le Pen já está a fazer planos pós-eleitorais. Os membros do seu partido no grupo Identidade e Democracia do Parlamento Europeu planeiam reunir-se com os aliados da UE na próxima segunda-feira para discutir o futuro da extrema-direita em toda a Europa. Muitos estão a considerar a possibilidade de aderir a uma nova aliança populista anunciada esta semana pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban (ver texto ao lado).
A Europa aguarda com expetativa as eleições franceses de domingo. O chanceler alemão diz ser «mais uma eleição cujo resultado pode causar preocupação». Num discurso, Olaf Scholz afirmou que «estamos com os nossos camaradas que estão a fazer tudo para que isso não aconteça. Estamos com todos os democratas em França».
«Caros amigos, vamos fazer tudo para que, juntos, possamos proteger a nossa grande e bela Europa e não deixar que os populistas de extrema-direita a dominem», apelou o líder socialista alemão.
Se o RN de Marine Le Pen tiver sucesso em conseguir aliados após a segunda volta das legislativas de domingo, irá conseguir formar o primeiro Governo de extrema-direita em França desde a Segunda Guerra Mundial.