Na reunião anual da Associação Europeia de Estabelecimentos de Ensino de Medicina Veterinária, que ocorreu no final de maio em Paris, a frase que mais ecoou foi que precisamos de mais médicos veterinários.
Os veterinários são um elemento-chave no conceito de “Uma Só Saúde”. Os veterinários não só protegem a saúde e o bem-estar dos animais de companhia, como também protegem a saúde pública ao supervisionar a saúde e o bem-estar dos animais de produção, garantindo que todos os produtos de origem animal são seguros.
Em Portugal, apesar de existirem 8 estabelecimentos de ensino de Medicina Veterinária, a alarmante dificuldade de retenção de profissionais já se sente nas diversas áreas do setor. Uma das principais razões, tem a ver com as condições de trabalho precárias, o que leva muitos veterinários a mudar de profissão. Segundo a Federação de Veterinários Europeus, 20% dos veterinários com menos de 40 anos mudarão de profissão.
Em Portugal, as dificuldades económicas crónicas, limitam a capacidade das pessoas em recorrer a cuidados veterinários adequados, agravados por um IVA a 23%, que é uma discriminação fiscal única, no que se refere a cuidados de saúde.
As dificuldades financeiras, tanto para veterinários como para os proprietários de animais, geram muitas situações de tensão, levando ao não cumprimento das recomendações médicas e ao adiamento de procedimentos mais caros. Como consequência, muitos veterinários decidem emigrar ou abandonar a profissão, agravando as condições e a pressão dos que resistem. Vários são os estudos realizados noutros países que concluíram que o risco de suicídio em medicina veterinária é de 2.1 a 12 vezes superior ao da população em geral. Em Portugal não há dados oficiais, mas já foi relatado que a ideação suicida pode ser 5.5 vezes superior.
A falta de veterinários resultará numa diminuição da proteção da saúde e bem-estar animal, potenciando o surgimento de novos surtos de doenças. A diminuição de acesso a cuidados de saúde médico-veterinárias terá um impacto negativo nas atividades agro-económicas especialmente nas zonas rurais com uma repercussão significativa na saúde pública e na sociedade como um todo.
Há muito a fazer e em vários campos, legislativos, laborais, ensino e de consciencialização pública, mas começar por melhorar as condições laborais, reduzir o IVA para 6%, e dar mais apoio aos jovens médicos veterinários no início das suas carreiras seria um excelente ponto de partida.