Uma nova direita com possibilidades de ser poder está a surgir e a consolidar-se. Como faltam ainda dados objetivos para a caracterizar de modo honesto e rigoroso, ou seja, não ideológico, o sistema das últimas cinco décadas, até para a diabolizar, designa-a como extrema-direita e antidemocrática (a extrema-esquerda é sempre democrática) para a associar aos fascismos da primeira metade do século XX.
O centro, o liberalismo e novo esquerdismo destruíram o melhor das sociedades e têm funcionado, sobre o essencial, como uma coligação até no ataque ao que coloca o seu poder, que se quer incontestado, em causa, mas as pessoas estão vivas e cansadas.
O liberalismo defende a sua causa, o liberalismo económico. Quem governa são os mercados e a visão económico-financeira global. Qualquer defesa das soberanias, de identidade cultural, das vidas concretas, da importância das comunidades locais, dos valores do Ocidente surge como um terrível perigo. Por que será?
Tudo o que enraíza e filia protege-nos da atomização e da manipulação dos totalitarismos, mesmo os disfarçados de democracia, como a atual ditadura económica dos mercados e os seus ‘idiotas úteis’, os progressistas (nunca confundir com progresso).
As resistências, os valores, a identidade cultural e nacional devem ser radicalmente dinamitados, para ficarmos desorientados, confusos e indefesos. O trabalho de campo dessa destruição foi legado pelos liberais aos novos esquerdistas. O trabalho em marcha de desidentificação, não é apenas sobre a cultura e a história, mas até sobre a nossa própria sexualidade. Destruir a identidade, os valores, a memória, fazem parte dos manuais do verdadeiro totalitarismo. No presente, esse trabalho é fundamental para a construção do grande mercado hiperliberal e dos cidadãos transformado em consumidores e utilizadores. Ver hoje nos EUA e na Europa os novos guardas maoístas e neoestalinistas a limparem o terreno para o hiperliberalismo é perturbante. Veja-se o discurso de Melénchon de 30 de junho: «Ser francês não é uma religião, não é uma cor da pele, não é uma língua, é apenas um contrato político que faz de nós um povo inacabado, cuja linha do horizonte retrocederá constantemente e atrás da qual teremos sempre de correr enquanto nos crioulizamos»… Não há identidade, mas contratos jurídico-legais e temos de nos crioulizar. Amar um país, uma história, uma identidade e uma cultura é ser fascista, repetem os médias liberais progressistas.
Esta nova esquerda é uma excrescência dessa outra, a velha esquerda, que pereceu nos anos 60, abandonou o povo, o homem comum, o trabalhador. Esses são agora os eleitores da nova direita, não da direita amestrada pelo sistema, como em Portugal é o caso do PSD e do CDS.
O que o sistema totalitário liberal progressista designa como direita radical e extremista é a nova direita democrática do século XXI, que ocupa o espaço, quer da velha esquerda, quer da direita que se vendeu ao sistema, sendo absorvida pelo liberalismo económico. Mas há um novo receio para o centro, para o sistema, que os políticos europeus já perceberam, como Ursula von der Leyen, menos nos povos do sul. Alguns setores dos radicais de esquerda estão em roda livre.
Este sistema começa a ruir e deixa de controlar as suas criações.