É evidente que os políticos querem escapar à justiça e que tudo farão para ganhar essa imunidade. E impunidade. Aqui está a verdadeira causa dos sucessivos ataques ao Ministério Público (MP). A justiça já está e estava feita para os ricos e poderosos, os tais que podem saltar de recurso em recurso, de garantia em garantia, de nenúfar em nenúfar, até à prescrição final. A justiça já estava feita para os ricos e poderosos, os que podem pagar a advogados que realmente conhecem os buracos deixados na lei pelos parlamentares. Até porque, amiúde, esses advogados e esses deputados são a mesmíssima pessoa, sem que tamanho conflito de interesses aborreça particularmente a ‘gente de bem’. O consenso político e da opinião mediática/publicada (intoxicando a opinião pública) que ataca Lucília Gago ou a Procuradoria-Geral da República (PGR) é o que pretende assegurar que nenhum político seja beliscado pela Justiça.
A célebre patranha do parágrafo foi uma jogada duplamente perversa: deu a Costa o pretexto ideal para mandar a toalha ao chão, rumando à Europa, tanto quanto deu para engendrar este libelo acusatório contra o MP, tentando partir-lhe a espinha.
Vejamos: nem a procuradora é responsável pelos fundos problemas da Justiça portuguesa, nem urdiu qualquer intentona contra a casta. É precisamente o inverso. Muitos titulares de órgãos de soberania é que têm desprezado, achincalhado e desinvestido na Justiça e são eles que lhe teceram uma trama. Afinal, quem é que inventou um rosário de bagatelas judiciais, alargou o uso das escutas telefónicas ou tempo das prisões preventivas? Claro que não foi Lucília Gago. E claro que esta elite política sociopata e sem qualquer escrúpulo (até a memória de Joana Marques Vidal instrumentalizam) pretende aniquilar um Ministério Público interventivo e robusto. O mesmo que foi demonstrado por Lucília Gago que gere mediatismos, silêncios, tanto quanto a independência e a coragem, com elevado sentido de Estado. O que esta elite política quer é exterminar a separação de poderes e até destruir esse alicerce ‘concorrente’ (assim o considera) da democracia – o judicial. Sonham ter uma espécie de Kit mãos livres (sujas, mas bem soltas), onde se sintam à vontade e mesmo à vontadinha para navegar a toda a brida entre os negócios e os cargos de governo e afins, sem engulhos ou grandes maçadas, e em perpétuo vaivém. O último reduto de proteção, a última linha ficará assim reservada para o povaréu, para a arraia miúda. De resto, este intento nesta sociedade cada vez mais iníqua não deve espantar ninguém. O mesmo se passa com a saúde ou com a escola pública.
É certo que o MP também falha e erra. Por isso mesmo, aliás, estão lá os tribunais para o validar ou infirmar. Também é certo que o MP precisa de reformas, alterações e melhorias. Mas está visto que com o ‘pôr a casa em ordem’ desta ministra da Justiça ou os manifestos de Rui Rio, essas alterações na organização e funcionamento do MP irão apenas no sentido de nomear um novo PGR subserviente ao poder político. Um pompom. E o caro leitor? Também é essa a ‘reforma’ que quer?