Reem Alsalem, a relatora da ONU sobre Violência Contra Mulheres e Meninas, condenou a prostituição. Supunha que tal condenação seria unanimemente aplaudida pelas feministas. Ledo engano. Uma organização feminista chamada The International Planned Parenthood Federation considerou a afirmação patriarcal e contrapôs que não há feminismo sem prostitutas.
O caso parece complicado, mas não é. Existem mais variantes feministas do que partidos de extrema-esquerda durante o PREC. As primeiras feministas lutavam apenas pelos direitos cívicos das mulheres, depois vieram as feministas marxistas que associavam o capitalismo ao patriarcado, depois vieram as feministas pós-colonistas que consideraram que as anteriores feministas não passavam de burguesas brancas, depois vieram as feministas radicais que odeiam pilinhas, depois vieram as eco-feministas que responsabilizam os homens pela destruição do planeta e, agora, esta salada de feministas divide-se sob o vinagre da prostituição.
Para entender a disputa, temos de recuar no tempo.
Messalina, mulher do imperador Cláudio, é considerada uma das mulheres mais devassas de sempre. Trabalhou num bordel, venceu uma maratona sexual, e usou o corpo para obter poder sobre os homens. Naturalmente, inspirou as primeiras feministas romanas. Sob o lema Pater Familias vai-te f…, um grupo de matronas fez aprovar leis que permitiam às mulheres serem nomeadas imperatrizes, chefiar legiões e lutarem no Coliseu.
É certo que durante a Idade Média a prostituta feminista foi suplantada pela freira machista e os direitos das mulheres enclausurados nos conventos. Contudo, com a valorização da cultura clássica no Renascimento, a imoralidade e a prostituição ganham uma respeitabilidade neoplatónica. A seta de Cupido que despertava o desejo também fazia aumentar a conta bancária. A cortesã renascentista janta com os Medici, recebe flores do Papa e posa para os grandes mestres. Ao mesmo tempo, organiza o sufrágio feminino e promove a igualdade salarial. Desde então, o movimento feminista nunca mais parou de crescer.
Assim, é normal que haja feministas que considerem que uma mulher de minissaia e bolsinha à beira da estrada esteja a lutar contra os abusos patriarcais. Falta, porém, que mulheres que se sentem homens as convidem para entrar no seu carro e negoceiem um felatio imaginário.