Joana Reymão Nogueira. “A pastelaria é uma forma de amor”

Com 17 anos fazia bolos à noite na cozinha dos pais. Primeiro para amigos, depois amigos de amigos e mais tarde em restaurantes. Acabou por abrir a sua fábrica e instalou-se no El Corte Inglés. Joana Reymão Nogueira vê a pastelaria como uma forma de amor e tem mantido a forma tradicional de confeção.

A pastelaria é uma forma de amor. Uma forma de mostrar amor. É isso que sente Joana Reymão Nogueira, atualmente com 50 anos, que criou o seu negócio em 1990 e que, desde essa altura, tem evoluído e conquistado o paladar dos portugueses. «No fundo é uma coisa doce e, por isso, proporciona um momento doce. Uma transmissão de amor de quem faz para quem come», afirma à LUZ.

Ocupava a cozinha dos pais durante a noite, treinando as receitas tradicionais que passaram de geração em geração. De manhã, já tudo tinha de estar limpo para o dia começar com normalidade na casa da família. Aproveitava essa altura para fazer algumas entregas. Das 13h às 19h estudava e, quando o sol se punha, voltava para a cozinha. Rapidamente se apercebeu que era isso que queria fazer para o resto da vida. Segundo a empresária, as doceiras da casa ensinaram-lhe tudo sobre os doces originários da família. «Completamente artesanais, receitas da minha bisavó», sublinha. Nessa altura, tinha apenas 17 anos. «Dediquei a minha vida toda à execução de sobremesas e doces. Fui tirando cursos e aprimorando um bocadinho as receitas tradicionais. Fui evoluindo e fui criando. Sou curiosa e criativa», revela. Os seus preferidos são os doces conventuais feitos à base de doce de ovos e fios de ovos. Foi por aí que começou, depois, foi criando: «Fui depois juntando outro tipo de doces. Gosto de oferecer uma grande variedade de produtos. Gosto de bolo de chocolate, da linha dos ‘bolos da avó’, que são simples mas muito bons», enumera. No entanto, foi através de uma tarte de bolachas finas de amêndoa com doce de framboesa caseiro que ficou conhecida. Aliás, ainda hoje esta continua a ser a sua imagem de marca.  

A evolução do negócio

Decidiu então desistir dos estudos, para se dedicar totalmente a este projeto, ideia que os seus pais apoiaram. Começou por fazer bolos e doces para amigos, depois para amigos de amigos, enquanto ia bater à porta de restaurantes para mostrar as suas delícias. Nunca gostou de estar parada: «Desde miúda que tive essa veia de ‘não estar parada’, não depender dos pais, ter o meu próprio dinheiro. Comecei a trabalhar em miúda. Aliás, o negócio começou precisamente com as minhas poupanças de adolescência», afirma. O dinheiro que foi ganhando, serviu-lhe para abrir depois uma pequena cozinha industrial no centro de Lisboa onde esteve durante 10 anos. Passado uns tempos, começou a vender para restaurantes na linha de Cascais. «A coisa começou a crescer para restaurantes em Lisboa e empresas de catering. No início nem me apercebi bem do crescimento. As pessoas é que me vinham procurar. Foi acontecendo naturalmente», lembra.

O negócio corria tão bem que teve de procurar instalações maiores. Acabou por abrir uma fábrica em Queluz. Mas mesmo na fábrica, continua a fazer tudo artesanalmente. «Porque eu prezo imenso isso. O doce de ovo é mexido por nós, não usamos máquinas… Nada que não seja a mão humana! A massa é feita, moldada, tudo», explica. Em 2018 abriu a sua loja no El Corte Inglés. Segundo a empresária e doceira, a sua marca é muito forte tanto nisso, como na versatilidade. É assim que a descreve. «Não gosto de ter sempre a mesma coisa nas montras. Quero inovar, criar, gosto de ir escolhendo cores diferentes. Hoje em dia, a marca tem vários gostos. É versátil. Tenho uma linha mais francesa, uma pastelaria mais seca… Um bocadinho de tudo», garante. Além disso, a marca tem tendências para o ecológico. Gostaria de criar uma linha mais saudável, se bem que nos doces conventuais é sempre difícil. Mas gostava de criar qualquer coisa alternativa. Está na calha para breve», adianta Joana Reymão Nogueira. Neste momento, trabalham na empresa 24 pessoas e fazem-se em média 800 bolos por dia.

Criações e pedidos

Interrogada sobre os pedidos mais frequentes, a empresária diz que os pedidos são muito uniformes. «No outro dia estive a fazer essa avaliação e é muito uniforme, não consigo dizer se são os convencionais, as miniaturas. É muito equilibrado. Agora, se me pergunta o que trago para casa? Os tradicionais, os que me estão mais perto», afirma. O bestseller é o merengado de noz, amêndoa e ovos moles. «É uma receita da minha avó. É o campeão das vendas».

Joana Reymão Nogueira tenta sempre ir de encontro aos pedidos dos clientes e custa-lhe muito dizer que «não»: «Desde o cliente pessoal que me telefona e me descreve o bolo que quer, ou ao cliente que tem um restaurante e preferia ter um bolo num outro contexto. Crio sobremesas para eles próprios. Gosto muito de inventar!», reforça.  Quando sente que as coisas não vão resultar, é sincera com as pessoas. «Há combinações que não ficam bem, bolos que não são exequíveis», admite. No que toca a imprevistos, felizmente, sempre foram resolvidos. «Já tive uma situação de um bolo de casamento que não foi colocado na câmara frigorífica. Ligaram-nos duas horas antes do evento e tivemos de ir a correr tratar do assunto. Temos conseguido resolver todos os imprevistos», conta. Os pedidos mais caricatos são sempre o de despedida de solteiro(a). «Há sempre pedidos muito caricatos, apimentados e engraçados», revela em tom de brincadeira. Relativamente aos planos futuros, a empresária conta que no dia 1 de agosto abrirá um novo espaço no centro comercial Vasco da Gama, mas já teve outros convites que ainda está a avaliar. «A tendência é essa, abertura de mais lojas e talvez começar a dar franchising da marca, mantendo sempre a qualidade. Prezo a qualidade e o posicionamento da marca. Isso para mim é fundamental. Já tive convites que recusei por não achar que são os sítios certos», remata.