As crianças pobres perderam e as ricas ganharam, é isso? Outra vez ? Mais uma vez? Uau. Um fenómeno paranormal. Filhos de pessoas privilegiados em colégios pagos conseguem melhores resultados do que filhos de pessoas carenciadas e sem escolaridade?! Enfim, mais um ranking que não passa de publicidade enganosa e de borla aos colégios privados. Caramba. Ainda não se fartaram desta patranha? Realmente acreditam em quase tudo, possivelmente até no coelhinho da Páscoa que põe ovos.
Estas listagens que se fazem passar por objetivas e fidedignas são uma aberração. Escolas privadas e públicas são completamente diversas e não é por fazerem estes paralelismos que se evaporam as diferenças económicas, sociais, geográficas. Tão pouco a regra dos colégios selecionarem os seus alunos conforme a conta bancária dos pais, o seu estatuto e até os resultados escolares dos filhos. Ou seja, de acordo com o pedigree.
Ou alguém crê que o Colégio do Rosário aceitaria crianças da Cova da Moura; mesmo que pagassem o seu peso em ouro?
Nada contra o ensino privado. Mas é evidente que os seus números são melhores porque recrutam castas. Uns são alimentados a bife do lombo, deitam-se em Suites com lençóis de linho e vão a escolas de turmas pequenas, professores bem tratados e grandes recreios. Outros comem esparguete e estudam na cozinha, levam duas horas a chegar a uma escola sem meios e com um corpo docente dorido e exaurido.
Que sentido tem comparar a corrida entre um cavalo puro-sangue inglês e uma mula famélica? Se a mula se esforçar muito e tentar com toda as suas forças vai ganhar, é isso?!
Os colégios privados selecionam os alunos, metem de lado os que lhes baixam o ranking (afundando-lhes lucros) e ainda aldrabam os resultados. Ou acham que é possível que quase todos estes alunos tenham 19 ou 20 a educação física, que 19 e 20 sejam mesmo as notas mais comuns ou que seja nestas instituições particulares que se verifica a maior disparidade entre as notas internas e as dos exames?! Poupem-nos!
Os rankings não são fiáveis. Tanto que não são congruentes com as classificações das universidades ou com outros indicadores como o PISA). Há uns tempos, a Nova SBE compilou dois rankings das escolas secundárias. Um que apenas considera as médias nos exames nacionais. Outro que leva em conta as origens socioeconómicas dos alunos. No primeiro , nas 60 primeiras posições, só 7 são públicas. No segundo, nas 60 primeiras posições, só 3 são privadas.
Vejamos: quem inventou esta burla foram jornalistas e não investigadores em educação. Quem amplifica e ressoa estas balelas é a comunicação social e não cientistas sociais, pedagogos e educadores. Ou seja, os media prestam-se a ser meras extensões protésicas de interesses particulares, nem que para isso seja necessário calcar e esmagar o trabalho duro de tanto professor brioso e dedicado, nem que isso passe por guetizar ainda mais tanto garoto nascido e criado no purgatório. Às vezes até no inferno.
Claro que há exceções. Há escolas públicas que furam a adversidade, privados cujo ensino não vale um prato de lentilhas, jornalistas com espinha e que honram a sua carteira profissional. Sim, são as exceções que confirmam a regra. Muitos dos outros precisavam de voltar à escola. À escola de ética. Em público e em privado.