O ninho não é o passarinho

O aborto não foi propriamente aprovado em referendo, mas sim a sua despenalização ou a não condenação da mulher que o pratica

O feminismo exacerbado, que reivindica todos os direitos para as mulheres, argumenta muitas vezes, a respeito do aborto (usa o eufemismo ‘interrupção voluntária da gravidez’) que o corpo é delas e por isso têm o direito de dispor dele a seu bel prazer. Mas trata-se de um sofisma, pois o que trazem no ventre não faz parte propriamente do seu corpo, nem foram elas que o lá puseram… Uma coisa é o ninho, outra a ave que lá se abriga e cresce. 

A banalização cada vez maior do aborto não é uma brincadeira de somenos importância deixada apenas às mulheres, nem faz parte dos ‘direitos das mulheres’ tão apregoado. É um imenso drama, que sacrifica cada ano, só em Portugal, milhares de bebés e no mundo mais de 50 milhões (desconheço as estatísticas e nem se publicam para não alarmar – silêncio envergonhado e culpado).

Quando pergunto às defensoras acérrimas do aborto, qual a diferença entre matar uma criança na barriga da mãe ou logo a seguir ao parto (infanticídio), ficam um tanto embaraçadas. Mas voltando à metáfora do ninho, será muito diferente matar o passarinho que lá se acolhe ou quando já anda a voar?

Deixemos mais uns meses o bebé crescer no ninho e em breve o teremos ao colo. Se quisermos outra metáfora: há muita diferença entre o fruto na árvore e quando o colhemos?

Há ainda outro sofisma: o aborto não foi propriamente aprovado em referendo, mas sim a sua despenalização ou a não condenação da mulher que o pratica. E aí podemos estar de algum modo de acordo. Mas já se sabia que a intenção era a liberalização total. Em todo o caso, a sociedade ou os políticos não têm o direito de aprovar a pena de morte dos bebés (nem dos idosos ou gravemente doentes: eutanásia – outro eufemismo que de ‘boa morte’ não tem nada). Porém, a França já admitiu o ‘direito’ ao aborto como constitucional…

Para finalizar, precisamos de crianças como pão para a boca. A imigração não resolve tudo, a menos que deixemos acabar a ‘raça’ portuguesa. 

Enfim, tanto se lamenta tantas mortes nas guerras, na fome e na miséria, sendo as crianças sempre as maiores vítimas, e silencia-se ou aprova-se matar no seio da mãe.