A Sagrada Escritura começa por dizer que no princípio de tudo está Deus. O princípio da existência tem em Deus a sua causa primeira. O Prólogo de São João introduz Jesus, o Messias, como uma Palavra em ação: «No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus. Tudo foi feito por meio da Palavra e sem ela nada foi feito. E a Palavra fez-se carne e montou uma tenda no meio de nós» (Jo 1,1-2).
Estas palavras estão no seguimento da tradição judaica que acredita que o Messias existe já em Deus, desde antes do princípio da existência da matéria. Há, com o Messias – que nós cristãos acreditamos ser Jesus – algo que existe, também, segundo a tradição judaica, desde sempre e que dá aos homens a possibilidade de retornarem a Deus – a Teshuvah. Isto é, mesmo antes de o homem ter transgredido a Lei, Deus já tinha em si a possibilidade de todo o homem se converter, isto é, de retornar a Deus.
A palavra usada por João para se referir ao Messias que estava no princípio da existência é a palavra grega Logos, que podemos traduzir como verbo, palavra, razão. Os próprios filósofos gregos dissertaram grandes conversas sobre a existência de uma razão que ordenara toda a realidade existente… Há, então, segundo a Escritura, uma razão impressa em toda a existência material, isto é, há uma ordem, uma lei, que lhe é inerente e que está harmonicamente conjugada entre todas as realidades existentes.
Algo que existe desde o princípio da existência é o descanso, porque, diz a Escritura, que Deus descansou, ao sétimo dia, das obras realizadas. É, por isso, que os judeus santificam o próprio Sábado, o shabat, que significa descanso… repouso…
A cultura judaica, que depois passou para a cultura judaico-cristã, santifica o sábado como o dia de repouso, não apenas do homem, mas de toda a criação. Há, ainda, na Lei judaica o chamado jubileu que, de cinquenta em cinquenta anos, obriga a que os homens, os animais ou os campos entrem em repouso sabático. É daqui que vem o nosso tempo sabático ou ano sabático, etc…
Pensar que de sete em sete dias tudo descansa, tudo repousa, é entrar num estado de liberdade que não tem preço. A correria do nosso dia-a-dia torna-nos incapazes de parar e olhar para o que não é visível… o repouso!
Admiro que os sindicatos estejam a fazer o trabalho que deveriam de ser os cristãos a fazer… levantar na sociedade o debate sobre a possibilidade de se fecharem as grandes superfícies aos domingos…
É, demais, evidente que a grande preocupação não está ao serviço dos homens, mas em questões económicas… porém, é um bom princípio que se comece a perceber que os homens precisam de usufruir de uma parte da criação de Deus – o descanso!
Diz-se que há cada vez mais divórcios, que as pessoas andam malucas e que há cada vez mais agressividade nos casamentos, nas relações familiares e nos próprios trabalhos… Eu admiro-me de não haver maiores desgraças… como não haver mais divórcios, se os casais não têm, sequer, tempo para dialogar?
O repouso é um dom… que, provavelmente, com a crise que vivemos, poucos podem usufruir… Talvez poucos possam usufruir das férias… É, no entanto, uma necessidade que precisamos de inserir nas nossas agendas… o descanso!