A COVID trouxe mudanças significativas nas Organizações, impulsionando uma acelerada evolução em diversas dimensões, com especial destaque para a organização do trabalho em grande parte das empresas e organizações.
Em janeiro de 2020, a grande maioria das Organizações estudava a (im)possibilidade de aplicar qualquer regime de flexibilização do trabalho, como o trabalho à distância. Em março de 2020, a COVID criou a oportunidade perfeita para que algumas dessas, mesmo que por imperativos de saúde ou legais, ajustassem o seu modelo de organização do trabalho, apoiando-se na flexibilização do horário de trabalho e/ou no trabalho à distância.
Quando terminaram as restrições de saúde e legais da COVID, as Organizações aprendentes aproveitaram a oportunidade, perceberam qual o caminho para evoluir, e redefiniram os modelos de organização do trabalho, percebendo rapidamente que reduziam custos (não era necessárias instalações tão grandes), aumentavam a produtividade (o tempo poupado nas deslocações era, agora, percecionado como demasiado) e melhoravam a satisfação e o bem estar dos trabalhadores, por mais facilmente conciliarem os interesses pessoais e familiares com as obrigações profissionais. Esta tríade tornou estas Organizações mais atrativas e com maior capacidade de reter talento.
Apostaram ou continuaram a apostar seriamente em:
1. Descentralizar competências consiste em distribuir o poder de decisão em diversos níveis da Organização, repartindo a função centralizadora da Direções, sediadas normalmente na capital, para as Delegações, sediadas noutros locais, reduzindo a sua necessidade laboral e, consequentemente, de recursos humanos, normalmente deslocalizados das suas residências;
2. Desconcentrar (deslocalizar) serviços centrais para outras zonas do território nacional, mantendo a ligação hierárquica às Direções, permitindo que a tecnologia faça o seu trabalho e os recursos humanos possam, mais uma vez, estar mais perto das suas residências;
3. Trabalho a distância, provavelmente, uma imagem que ficará para sempre associado ao período da COVID, por ter sido a medida imediata tomada pelas Organizações, mas que veio a tornar-se uma solução de sucesso, permitido que as Organizações continuassem o seu labor, potenciado ainda mais pelas evidências de redução do absentismo e do turnover, e por terem descoberto, mesmo que forçadamente, que o trabalho pode ser desempenhado de forma eficaz fora do ambiente tradicional do escritório, com apoio de tecnologias e plataformas de colaboração digital.
A combinação destes modelos de organização do trabalho assume-se como um novo paradigma nas Organizações e na sua capacidade de atratividade, porque a base de recrutamento passa a ser verdadeiramente nacional, ou até mesmo internacional, baseada puramente no talento e nas competências, e não apenas em caprichos geográficos ou modelos obsoletos de gestão, profundamente castradores de agilidade e eficiência.
Centrando-nos agora na PSP, o preço da habitação em Lisboa é um problema e agudiza a falta de atratividade da instituição, pelo que os Serviços Sociais da PSP estão a trabalhar nesta senda, procurando soluções habitacionais a melhores preços. No entanto, será importante analisar este problema de outra perspetiva. Não será o facto também da PSP ter mais de 8.000 Polícias em Lisboa um problema [ou uma oportunidade]?
A título de exemplo, por que é que o Departamento Financeiro da PSP não está parcialmente desconcentrado em Coimbra e a Informática em Viseu? Não poderia tecnologicamente a Central Rádio do Comando da PSP de Lisboa funcionar em Viseu? E a gestão dos contratos por que não é feita em trabalho a distância?
Apesar de se começar a sentir a genuína vontade em avançar nesta área, as Organizações de matriz castrense, infelizmente, quando terminaram as restrições sociais da COVID, voltaram ao modelo de organização do trabalho de janeiro de 2020, com todas as suas vicissitudes e, sobretudo, com todas as suas limitações. A PSP, tal como outras organizações, públicas e privadas, demanda soluções que incrementem não só a eficiência no trabalho, mas sobretudo que vinculem os seus extraordinários recursos, policiais e não policiais.
Teremos perdido uma oportunidade de ouro, ou ainda vamos a tempo?