A África Austral enfrenta a pior seca em 100 anos, afetando pelo menos 27 milhões de pessoas que dependem da agricultura. A ONU alerta para o facto de a situação estar a agravar-se, com a época de escassez a piorar, visto que a próxima colheita só ocorrerá em abril de 2025. Lesoto, Malaui, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué já declararam estado de catástrofe, e Angola e Moçambique podem seguir o mesmo caminho. A seca, exacerbada pelo El Niño, destruiu a maioria das colheitas – numa região onde 70% da população depende da agricultura –, aumentando os preços dos alimentos.
Em países como Malaui, Zâmbia e Zimbabué, entre 40% e 80% das colheitas de milho foram perdidas. Embora o El Niño tenha terminado, os seus efeitos continuam a afetar negativamente a agricultura e a pecuária. Para além disto, a seca também está a agravar a escassez de água, comprometendo a higiene e o saneamento, e contribuindo para surtos de cólera em alguns países.
No Zimbabué, por exemplo, a seca levou à pior crise de fome em mais de uma década. Já em abril, o Presidente Emmerson Mnangagwa apelou ao auxílio internacional, clarificando que necessita de dois mil milhões de dólares (1,85 mil milhões de euros) em assistência humanitária. «Nenhum zimbabuense pode sucumbir ou morrer de fome», esclareceu o dirigente político, pedido a entidades como as agências das Nações Unidas, as empresas locais e as organizações religiosas que dessem a mão ao país.
Para além destas questões, com o período de escassez a aproximar-se rapidamente, a desnutrição aguda e a falta de água podem aumentar significativamente. As mulheres e crianças correm maiores riscos de discriminação, violência e exploração. A migração forçada pode resultar em evasão escolar e menor acesso à educação.
O Fundo Central de Resposta a Emergências da ONU libertou 36,8 milhões de dólares – o equivalente a 34 milhões de euros – para apoiar parceiros em vários países afetados. As ONGs pedem mais financiamento para salvar vidas, proteger meios de subsistência e ajudar comunidades a desenvolver resiliência contra futuros choques. As prioridades incluem assistência alimentar, água potável e produtos agrícolas.
No âmbito do apoio prestado pela ONU, o Programa Alimentar Mundial (PAM) está a colaborar com governos locais para mitigar os efeitos da seca, incentivando o plantio de culturas resistentes, como sorgo, painço e mandioca. Além disso, solicitou 409 milhões de dólares – 379 milhões de euros – para fornecer alimentos, dinheiro e assistência a cerca de seis milhões de pessoas na região. «O pior período vem agora», declarou à AFP a diretora regional interina do PAM para a África Austral, Lola Castro, numa entrevista concedida há uma semana. «Quando se vai agora às zonas rurais produtivas da África Austral, o que se vê é um cenário de devastação», frisou.