Há alguns dias, na apresentação do recinto da edição deste ano do NOS Alive aos jornalistas, no Passeio Marítimo de Algés, o produtor do evento, Álvaro Covões, falava sobre um dado muitas vezes ignorado: o número de pessoas que trabalham no local, cerca de 5 mil.
Quando pensamos nestes festivais de verão focamo-nos muitas vezes na música, na qualidade do cartaz, nas inovações no espaço, na segurança e acessos, etc.. No entanto, poucos pensamos nos mesmos enquanto atividade económica relevante: nos postos de trabalho que cria, na ocupação dos hotéis, no número de clientes dos restaurantes e táxis ou na receita tributária gerada.
Talvez sejam os parcos hábitos culturais do país a determinar esta forma enviesada de olhar as atividades económicas relacionadas com a cultura. Mesmo entre os agentes políticos, assistimos com alguma surpresa à desvalorização destes grandes eventos ou, no limite, à utilização populista do que entendem ser fragilidades dos mesmos, criticando o que devia ser protegido.
São as críticas exageradas ao ruído gerado (como se fosse possível realizar festivais urbanos sem incómodo desta natureza), o exagero desproporcionado com que são referidas as dificuldades de circulação e estacionamento nos dias do evento (não é possível gerir a entrada e saída de mais de 60 mil pessoas em recinto improvisado sem impacto na comunidade) e, até, como sem pudor se afirma que a comunidade nada ganha com um evento como o NOS Alive (como se a restauração ou pequeno comércio não fizesse também parte da comunidade).
Era mais simples que este tipo de oposição tivesse coragem e dissesse o seguinte: ‘connosco não haverá mais NOS Alive em Oeiras’. Em vez de estar a degradar o evento, assumiam uma posição de princípio e toda a gente saberia com o que poderia contar, se os populistas chegassem ao poder.
Claro está que, a quem não lida maravilhosamente bem com a verdade, não se pode pedir honestidade política, apenas podemos expor que são contra um evento que tem um impacto económico enorme no país, esgota (ou próximo disso) a ocupação hoteleira na zona ribeirinha/marítima entre Belém e o Estoril, durante a semana em que se realiza, e levou o nome de Oeiras e Algés ao mundo inteiro (com o valor inerente a isso para a construção da marca e do ‘marketing territorial’).
Curiosamente, esta forma enviesada e tacanha de ver a economia da cultura não é assim em todos os lugares.
Há poucos dias, a BBC noticiava, como um dos temas do dia, a chegada da época dos ‘festivais de verão’. Falavam, nas reportagens, da importância destes festivais como fator de atração turística, do aumento do número de festivaleiros de 2022 para 2024 (mais 40%) e do impacto dos mesmos na economia inglesa, cerca de 9,6 mil milhões de euros. Paralelamente, era comentada a importância dos mesmos para o ‘soft power’ inglês.
Comparações à parte, é triste ver como aqueles que supostamente se querem dedicar à causa pública tentam destruir uma atividade que devia ser protegida. Não se entende o que querem.
Portugal sempre teve no ‘velho do Restelo’ o exemplo das ‘forças de bloqueio’ que tudo tentam parar e tudo tentam destruir. Os novos populistas, como os revolucionários de outros tempos, nada mais parecem querer do que isso: destruir!