As doenças mais comuns nos idosos. Quais são e os seus efeitos

Existe um leque de doenças que afeta os idosos, como a diabetes ou as patologias cardiovasculares, como explica o médico João Alves Mendes. Para o colega João Pedroso de Lima “a solidão é uma das piores coisas de que podem sofrer”.

A expectativa de vida tem aumentado globalmente, com muitas pessoas a viver até aos 70 anos ou mais. Até 2030, uma em cada seis pessoas terá 60 anos ou mais, e essa proporção aumentará para 1,4 mil milhões. Em 2050, a população mundial de idosos deverá dobrar, alcançando 2,1 mil milhões, e o número de pessoas com 80 anos ou mais triplicará, chegando a 426 milhões. Já se sabe que o envelhecimento resulta da acumulação de danos moleculares e celulares ao longo do tempo, levando a uma diminuição das capacidades físicas e mentais e a um risco crescente de doenças.

Estes processos são influenciados por fatores biológicos, bem como por transições de vida como a reforma e a perda de amigos e parceiros. Essas mudanças trazem diversos desafios de saúde, incluindo a propensão a múltiplas condições de saúde simultaneamente, conhecidas como síndromes geriátricas (fragilidade, incontinência, quedas, delírios, etc.). Relativamente às patologias mais comuns na terceira idade, estas são variadas. Por exemplo, há a doença de Alzheimer, “que afeta principalmente pessoas com mais de 65 anos, causando deterioração progressiva das funções cerebrais, afetando a memória, a linguagem e o comportamento”, como explica ao i o médico João Alves Mendes, cirurgião cardiotorácico e proprietário de uma clínica médica no centro de Paço de Arcos, em Oeiras, lidando de perto com a população mais idosa.

Dentro deste conjunto das doenças neurodegenerativas, encontramos também a doença de Parkinson, “que provoca tremores, rigidez muscular e lentidão dos movimentos devido à redução de dopamina no cérebro”. Porém, existem outras de que ainda ouvimos falar mais como as cataratas, “que afetam a visão devido à perda de transparência do cristalino, comum em pessoas idosas” ou a diabetes, “caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue e que pode ser fatal se não controlada adequadamente”.

Também a osteoporose é uma patologia que afeta – e muito – os mais velhos. “É uma condição que reduz a massa óssea e enfraquece a estrutura dos ossos, aumentando o risco de fraturas, especialmente nas ancas, na coluna e nos punhos. Muitas das vezes, só é diagnosticada após uma fratura”, sintetiza o médico, abordando também as doenças cardiovasculares. “Afetam o coração e os vasos sanguíneos e são principalmente causadas por hábitos de vida inadequados e fatores de risco modificáveis. Entre as mais graves estão as doenças das artérias coronárias e das artérias cerebrais, geralmente devido à aterosclerose, que é a acumulação de placas de gordura e cálcio nas artérias”, refere, declarando que tal pode conduzir “a problemas como angina, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e alterações de memória”.

No entanto, para João Pedroso de Lima, médico especialista em Medicina Nuclear, coordenador do projeto Coimbra Cooletiva e anterior coordenador do Projeto H2 do CHUC, “a solidão é uma das piores coisas de que os idosos podem sofrer”. “Pode sentir-se solidão em qualquer momento da vida, sem dúvida, mas é pior nas pessoas mais velhas. Há jovens que se sentem muito sozinhos, mas é mais prevalente nos idosos. E essa é realmente uma epidemia que cada vez está mais marcada, mais intensa e cada vez mais também acaba por merecer a atenção de todos”, declara o profissional de saúde que tem como principal missão humanizar os cuidados de saúde.

“Podemos sentir solidão no meio de dezenas ou centenas de pessoas. Não significa que estejamos mesmo sozinhos fisicamente”, declara o médico. “Apresento uma frase que sintetiza a mensagem que quero transmitir: ‘Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar’, de Sophia de Mello Breyner. A imagem que acompanha essa frase é a de uma cama de hospital com lençóis desalinhados e sem um doente visível, simbolizando o ‘doente invisível’. Este ‘doente invisível’ representa os doentes que, apesar de estarem ali, se sentem ignorados. São aqueles que estão nas macas dos serviços de urgência, pedem um copo de água ou informação após horas de espera e ninguém os nota”, lamenta João Pedroso de Lima.

“Como disse na entrevista que concedi ao Nascer do SOL, são aqueles ao lado dos quais passam várias batas brancas a conversar, sem mostrar respeito pela sua situação. Ou aqueles que, acamados, recebem uma bandeja de comida colocada fora do seu alcance, sem autonomia para se alimentar, tornando-se invisíveis porque ninguém lhes dá assistência”, lastima o médico. “Essa imagem é chocante, mas reflete a realidade diária nos nossos hospitais. Embora existam manifestações de grande humanismo e elevado profissionalismo em muitos serviços, o oposto também ocorre. Há causas para isso, certamente, e é crucial que os profissionais de saúde estejam conscientes de que trabalham num ambiente onde a dignidade e o respeito pelo doente são fundamentais”, declara.

Adianta igualmente que já comentou antes “que as pessoas se portam melhor numa biblioteca do que num hospital”. “Isto não pode continuar assim. É essencial criar um ambiente hospitalar onde todos os doentes se sintam vistos e cuidados, respeitando a sua dignidade e necessidades básicas”.

Um problema generalizado

Fala-se na solidão, muitas das vezes, como se fosse um problema isolado. Porém, um estudo do Instituto Regenstrief e da Universidade do Indiana revelou que a solidão pode ser mais prejudicial para a saúde dos idosos do que o alcoolismo, a obesidade e o consumo de até 15 cigarros por dia. Publicado no Journal of the American Geriatrics Society, o estudo indica que 53% dos idosos que frequentam cuidados primários relatam solidão, que afeta negativamente a saúde física e mental e diminui a qualidade de vida.

Os investigadores sugerem que os médicos de cuidados primários devem incluir o rastreio da solidão nas consultas e oferecer soluções, como o programa Círculo de Amigos, que tem mostrado benefícios na redução da solidão e na melhoria da saúde. Em Portugal, já existem iniciativas como aquelas que são exploradas mais à frente, nas pág. 14-15. O estudo, realizado durante a pandemia de Covid-19, destaca a necessidade urgente de enfrentar a solidão antes e depois da crise.

A solidão também tem impacto na saúde, com efeitos como mau sono e aumento da ansiedade. Globalmente, cerca de 330 milhões de adultos passam pelo menos duas semanas sem contacto com amigos ou familiares, com alta prevalência entre os 30 e 40 anos. Em Portugal, 21,9% dos portugueses relataram sentir-se sozinhos em 2020, um aumento significativo desde 2016.