Estradas portuguesas na lista das mais perigosas da UE

Dados recentes mostram que Portugal é um dos países europeus onde é mais perigoso conduzir.

As estradas mais perigosas do mundo são verdadeiros desafios. Entre elas, destaca-se a Estrada da Morte, na Bolívia, com curvas estreitas e precipícios rochosos de até 600 metros de altura, que exigem extrema cautela. Nos Himalaias, a Estrada de Zojila Pass é notória pelas suas condições imprevisíveis, muitas das vezes estando coberta por neve e sujeita a deslizamentos de terra. Já a Estrada BR-319, na Amazónia, é considerada uma das mais perigosas do Brasil, com zonas intransitáveis durante a temporada de chuvas. 

No entanto, talvez não pensemos em Portugal quando refletimos acerca deste tema. Contudo, os dados atuais revelados pelo Conselho Europeu de Segurança nos Transportes mostram que a Bulgária é o país mais perigoso da Europa para conduzir, com 79% mais mortes nas estradas em 2023 do que a média da União Europeia (UE). E há outros países com altos índices de mortalidade, como Roménia, Sérvia, Letónia, Croácia, Itália e… Portugal. Já no início do ano, o site Budget Direct elaborou uma lista das estradas mais perigosas de cada país e chegou à conclusão, com o número de acidentes disponível, que a IC19 – que liga Lisboa a Sintra – é aquela em que devemos ter cuidado redobrado. Ou seja, corrobora a informação veiculada no relatório anual de sinistralidade da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) de 2014.

“Temos uma tendência decrescente da sinistralidade grave até 2013. Havendo depois uma estagnação e, a partir de 2016, uma subida. E o decréscimo da pandemia. Já estivemos próximos da média da UE”, começa por explicar ao Nascer do SOL Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP). “O que é que isto nos indica: que os outros países têm evoluído mais rapidamente. Temos ficado um bocadinho estagnados e, estando a meio da tabela há uns anos, neste momento somos o sexto país com a pior performance a nível europeu”, lamenta, observando que se analisarmos os dados, compreendemos que há países que estão em lugares piores do que Portugal, mas também há outros como a Noruega ou a Suécia “com cerca de 20 mortos por cada milhão de habitantes”.

“Temos margem de progressão. Aquilo que conhecemos até hoje permite-nos chegar aos tais 20 mortos”, garante Alain Areal, declarando, porém, que “há muito trabalho a fazer”. “E, sinceramente, acho que há uma coisa crucial: pode ter havido a desculpa da mudança de governo, mas Portugal está sem uma estratégia de segurança rodoviária desde 2020. Estes países com melhor performance conseguem estes resultados porque há uma abordagem do sistema seguro”, avança, acrescentando que esta “é adotada e passa essencialmente por duas premissas: uma abordagem holística (jnfraestruturas, sistema de emergência e seguro, veículos, etc.) e uma sistemática”, frisa o dirigente da PRP, lastimando que estejamos “sem um documento estruturante que oriente as medidas prioritárias para organizar a segurança do sistema”.

Para Alain Areal, “a prioridade máxima é termos uma estratégia”, pois, na sua opinião, “não chega ter documentos”. “Senão as taxas de execução são fraquíssimas. De outra forma, teremos um excelente documento com uma fraca implementação. O mais relevante é estarmos a perder caminho em relação aos outros países. Estamos a afastar-nos porque os outros evoluem rapidamente”, aponta, lembrando que o país tem problemas como a sinistralidade elevada entre os 18 e os 24 anos, o atropelamento de idosos ou o consumo de álcool a níveis ilegais. “E a gestão da velocidade dentro das localidades é essencial”, salienta. Atualmente, o Código da Estrada permite 50 km/h nas localidades para automóveis ligeiros. Mas a Declaração de Estocolmo, assinada por Portugal em 2020, sugere que reduzir a velocidade para 30 km/h dentro das cidades pode diminuir significativamente os acidentes fatais. Exemplos internacionais, como Nova Iorque e cidades espanholas, já mostram resultados positivos com essa medida, tendo registado uma redução significativa de acidentes e mortes no trânsito.

Alain Areal adianta igualmente que há dois novos problemas, na medida em que “em todas as categorias de veículos e peões, temos redução na sinistralidade, mas nos motociclos temos um aumento do número de mortos de 33% de 2019 a 2023”. E nos velocípedes a situação não é mais positiva porque “também temos um aumento tanto nos óbitos como nos feridos”. “Não estávamos habituados a lidar com estas realidades. Relativamente aos motociclos, tem a ver com o parque segurado. Há muitos mais, muito mais utilização. Na parte dos velocípedes temos muito pouca informação, infelizmente. Por exemplo, não sabemos a diferença entre motociclos e trotinetes nestes dados”, realça, sendo que importa referir que em 2023 os acidentes que envolveram motociclos, bicicletas e trotinetes aumentaram significativamente, segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR). O número de mortes subiu 25% para motociclistas e quase 36% para ciclistas em comparação com 2022. Ao todo, 26 pessoas perderam a vida em acidentes com bicicletas e trotinetes. No total, ocorreram 8.936 acidentes com motociclos, um aumento de 25,8% em relação a 2019 e 16,4% em relação a 2022.