O olhar do outro é o nosso espelho

O olhar do outro é como um espelho em que nos vemos e conhecemos.

Mãe, olha aqui sem mãos!», «Agora sem pés!», «E agora sem dentes!» Tanto ou maior do que o prazer de realizar uma atividade ou uma habilidade é o prazer de ser apreciado e reconhecido.

Logo no primeiro dia o recém-nascido é olhado, apreciado, comentado e elogiado. «Que lindo, que perfeitinho. Parece um anjinho!». Sem que o bebé perceba o que os elogios significam, é com estas palavras carinhosas e o olhar atento que se iniciam a vinculação e o diálogo entre os pais e o bebé. Com o tempo vem o primeiro sorriso, as vocalizações, as carinhas e as caretas e depois habilidades incríveis como rolar, gatinhar, sentar ou andar, que serão seguidas de gritos de um entusiasmo genuíno e palmas frenéticas. Rapidamente será o próprio bebé a aplaudir-se quando faz alguma coisa de que se orgulha e a procurar a aprovação do adulto. Deseja que as suas conquistas sejam tão importantes para os pais como são para ele e se estes não reagem repete a proeza ou o aplauso até receber o merecido reconhecimento.

É através do olhar do outro que nos definimos e avaliamos. É através do seu entusiasmo e reconhecimento que evoluímos, que nos superamos e surpreendemos. Esta é a maior motivação e recompensa.

O olhar do outro é como um espelho em que nos vemos e conhecemos. É através desse reflexo, da imagem que ele nos transmite, que começamos a formar a ideia que temos de nós. Como nos espelhos da Feira Popular, a mesma imagem refletida em diferentes espelhos é necessariamente devolvida de forma diferente. Enquanto uns a mostram esguia, outros refletem-na redonda, com o nariz grande, com a testa enorme ou com a cabeça pequena. Assim são os pais. Dificilmente serão um espelho fiel que reflete exatamente a imagem que é apresentada. Para muitos, o coração e o que os liga aos filhos terão tendência para exacerbar cada conquista, cada habilidade, para que a criança se sinta verdadeiramente segura e feliz. Mas também pode acontecer o contrário se o olhar for vago, distante, indiferente ou mesmo punitivo ou depreciativo.

A imagem real será a criança a descobri-la com o tempo, à medida que cresce e que se desenvolve nas diferentes facetas, quando se começa a conhecer melhor, a ter maior capacidade de crítica e a alargar o número de espelhos que refletem a sua imagem.

Ao longo da vida o reconhecimento sofre alterações. Ainda na infância e depois na juventude os pares passam a desempenhar um papel muito importante na imagem que cada um forma de si. Na idade adulta serão sobretudo as conquistas e o reconhecimento ao nível profissional que terão mais impacto. No entanto, dificilmente terão o mesmo peso que tiveram os da infância e serão necessariamente mais pontuais. As crianças fazem diferentes conquistas com uma enorme frequência porque estão a experimentar tudo pela primeira vez e estão rodeadas de rostos sorridentes (ou desdenhosos) que as observam e fazem apreciações.

A imagem primordial, através da qual a criança se conhece e desenvolve, é a mais sólida. Tanto para o bem como para o mal. E dificilmente se altera, mesmo quando confrontada com uma realidade oposta. Se a imagem for positiva, é ótimo, porque só trará maior segurança e confiança. Mas se for negativa, se tiver sido sentida e interiorizada como tal, pode refletir uma imagem interna distorcida que terá um impacto negativo no seu percurso e na relação consigo e com os outros. Por vezes são imagens profundamente cravadas que dificilmente serão desconstruídas, capazes de oprimir e condicionar todo um percurso de vida.

Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton