Não vamos entrar em bairrismos bacocos. Mas não será nova a afirmação: o investimento do Estado Central no território não é – nunca foi – ajustado às reais necessidades do mesmo.
Para lá das razões históricas, políticas e culturais que explicam (mas não validam!) o centralismo a que foram votados a despesa e o investimento públicos (ou, se quisermos, o dinheiro de todos nós) ao longo de séculos, convém, hoje, olhar para o país de forma desassombrada e renovada, dada a nova realidade que se lhe impõe: há novas centralidades, umas já consolidadas, outras em clara expansão – e há respostas que têm de ser dadas com urgência.
Vejamos, então, o caso de Braga.
Braga foi, sem sombra de quaisquer dúvidas, a cidade que mais cresceu nos últimos 10 anos em Portugal. E cresceu a todos os níveis. Mesmo não estando na ‘corda’ das duas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Hoje, ao contrário do que acontece na generalidade do país, há mais gente a viver em Braga: de acordo com os Censos 2021 e comparativamente aos Censos de 2011, enquanto o país perdia habitantes (-2,1%), Braga ganhou-os (+6,4%). Aliás, Braga foi a que cidade que mais ganhou residentes em Portugal. E há também mais gente a estudar e a trabalhar em Braga: pessoas que vivem na cidade, mas também muitas que vivem nos municípios vizinhos, ou até noutros distritos, como são disso especial exemplo o Porto, Viana do Castelo, Vila Real ou Aveiro.
A tudo isto, junta-se um novo facto, conhecido há poucas semanas: o concelho de Braga ultrapassou, em 2023, a barreira dos 200 mil habitantes, tendo atingido o máximo histórico de cidadãos residentes. Aliás, conhecidos que estão estes dados, podemos afirmar sem assombro que o crescimento acumulado da população bracarense é superior a 10%, desde 2011, o que faz da capital minhota o território que mais aumentou a população entre os maiores concelhos do país, nos últimos 12 anos.
Pelo meio, na última década, Braga deixou de estar no ‘amplo’ top 20 dos concelhos mais exportadores do país, para se cimentar no terceiro lugar do rol dos municípios que mais contribuem para as exportações em Portugal, muito por força de investimentos em áreas particularmente relevantes, onde a inovação e o conhecimento técnicos de ponta têm um especial e diferenciador papel.
Podíamos, ainda, concentrar a nossa análise noutros dados, que bem retratam a realidade da cidade. Mas vamos dar apenas mais três exemplos: o turismo, que cresceu perto de 500%(!) na última década; ou o número de processos de licenciamento habitacional ou de atividades económicas, que se coloca em máximos históricos; ou, ainda, os números relativos à utilização dos transportes públicos, uma vez que Braga viu, entre 2021 e 2023, um aumento da utilização do transporte público a rondar os 35%, tendo a empresa municipal de transportes atingido, no ano transato, o gigantesco número de 13 milhões de passageiros transportados.
Ora, com tudo isto, têm-se verificado as normais (mas um tanto ou quanto evitáveis) dores de crescimento da cidade. E essas dores de crescimento verificam-se, de especial modo, nas condições de mobilidade dentro do seu território. Mesmo com toda a aposta que tem sido feita pelo Município de Braga na construção e requalificação de vias; mesmo com a enorme aposta que se tem feito no transporte público; mesmo com todo o esforço conseguido, é também certo que há investimentos que têm de ser realizados com urgência. E a construção de novas infraestruturas viárias em Braga, que não vê um cêntimo do Estado Central há mais de 15 anos para este fim, é uma exigência que tem de ser cumprida.
Isto, enquanto, de seis em seis meses, numa qualquer visita pela AM de Lisboa, se vê mais uma nova estrada, um novo túnel, um novo viaduto. Pagos por todos nós.
Não há territórios de primeira e de segunda. Mas há uns que exigem mais do que outros. E a perversidade constata-se quando percebemos que aqueles mais contribuem e precisam são também aqueles que menos recebem.
E isto tem de mudar. De uma vez por todas.