Depois de ter visto nos Jogos Olímpicos um homem a bater numa mulher ou, usando uma linguagem inclusiva, uma atleta com níveis de testosterona de homem a lutar boxe contra uma atleta totalmente feminina que, depois de levar dois sopapos, desistiu em lágrimas, tive uma ideia genial. Também pretendo beneficiar destas novas regras que permitem que mulheres que parecem homens, compitam contra mulheres que parecem mulheres. Claro que não pretendo mudar de sexo, mas posso alegar que, por vezes, me sinto mulher. Não é verdade, mas a batota faz parte do desporto – tomar doping seria muito pior.
Portanto, apelo ao Comité Olímpico que me permita entrar em provas femininas e, para não haver surpresas ou vergonhas, crie uma competição para senhoras com mais de 80 anos, com um historial clínico de artroses, tromboses e um pouco de Alzheimer.
Começarei por lutar boxe contra estas atletas. É verdade que nunca pratiquei boxe, mas como tenho a graduação de 2.º Dan em Karaté Shotokan, estou convencido que em pouco segundos nocauteava qualquer uma destas velhinhas. Obviamente, teria o cuidado de não lhes partir o nariz, provocar descolamentos da retina ou traumatismos cranianos. Na verdade, o mais provável seria que a maioria, depois de assistir ao primeiro combate, desistisse e me oferecesse a medalha de ouro.
Depois entraria num torneio de ténis com as mesmas regras de idade e saúde debilitada. Como jogo ténis desde que nasci e até ganhei alguns títulos regionais, vencer este torneio deverá quase tão fácil como o do boxe. Porém, para não me acontecer o mesmo que a Bobby Riggs, a tenista Billie Jean King ficaria impedida de participar. A senhora já tem oitenta anos, veste-se como uma velhinha, usa um penteado de velhinha e óculos a condizer, mas é melhor não arriscar. E quanto às outras, bastaria fazer amortis para ganhar facilmente o torneio.
Por fim, entraria em todas as provas de atletismo e natação – menos as longas distâncias porque não sei se consigo nadar mais de cinco piscinas seguidas – contra estas anciãs reumáticas, escleróticas e chéchés da cabeça. Nas provas ao ar livre, sobretudo em dias quentes, os organizadores do Jogos deverão ter o cuidado de disponibilizar equipas médicas de reanimação, além de psicólogos para dar apoio aos familiares das atletas caso algum óbito suceda.
Provavelmente, será um espetáculo deprimente, pior do que alguns concursos televisivos ou as explicações de Boaventura Sousa Santos. Mas o que interessa é celebrar o ideal olímpico e mostrar ao mundo que no século XXI as mulheres podem ser melhores que os homens, podem ser iguais aos homens, e também podem ser humilhadas por homens desde que se esteja a criar uma nova sociedade inclusiva à bofetada.
Escritor