Nos anos 80, Oeiras viu nascer o Palmeiras Shopping, um empreendimento ambicioso que prometia transformar a dinâmica comercial da região. Inaugurado com grande alarido, oferecia aos visitantes uma experiência de compras inédita, com lojas distribuídas em dois andares na base de um complexo de torres residenciais de 16 andares, incluindo lojas especializadas e boutiques exclusivas. O seu design arquitetónico moderno, com amplos corredores, escadas rolantes reluzentes e uma praça de alimentação vibrante, rapidamente se tornou um ponto de encontro para famílias, jovens e turistas.
Durante essa década e também a seguinte, o Palmeiras Shopping floresceu. Eventos culturais atraíam multidões e o centro comercial era um símbolo de progresso e modernidade. Era o epicentro do lazer e entretenimento. Os lojistas prosperavam e novidades surgiam nas imediações, beneficiando do fluxo constante de consumidores. No entanto, no início dos anos 2000, os sinais de declínio começaram a surgir. A abertura de novos centros comerciais mais modernos e melhor localizados, como o Oeiras Parque, desviou a atenção do público.
Lentamente, as lojas começaram a fechar as suas portas. Os corredores outrora cheios de vida tornaram-se quase desertos e os espaços vazios das lojas fechadas criavam uma atmosfera melancólica. Hoje, o Palmeiras Shopping é apenas uma sombra do seu passado glorioso. Para aqueles que o conheceram nos seus anos de ouro, o centro comercial é uma lembrança nostálgica de uma época de prosperidade e inovação. Histórias de encontros, desencontros, compras e lazer são contadas por antigos clientes, empregados e proprietários, que lamentam a decadência do espaço que completou 38 anos no dia 28 de junho.
«Trabalhei na Lua-de-Mel durante muitos anos. Não vou dizer quantos porque podem perceber quem sou», começa por explicar António (nome fictício) à LUZ. «Era uma casa cheia de vida porque as pessoas iam fazer compras e acabavam por ir beber café e comer um bolinho. Havia outras que iam mesmo ao Palmeiras de propósito para saborearem a nossa pastelaria», recorda, lamentando o encerramento polémico do estabelecimento na Rua da Prata em 2008, que colocou em questão os direitos dos trabalhadores e levou a que a rede de pastelarias Lua-de-Mel fechasse, em 2012, as suas últimas quatro lojas: na Parede, em Cascais, em Oeiras e em Carcavelos.
Num folheto distribuído à população, o sindicato dos trabalhadores na indústria de hotelaria, turismo, restaurantes e similares do sul informou que os funcionários estavam com salários e subsídios atrasados. De acordo com o sindicato, o fecho das quatro pastelarias foi um «procedimento ilegal e criminoso», decorrente de uma «gestão irresponsável». Em novembro de 2008, o encerramento da loja na Rua da Prata gerou grande controvérsia e levou o representante legal dos funcionários a interpor uma providência cautelar para suspender a decisão.
À época, os trabalhadores não foram informados sobre o fecho, sendo que lhes disseram que a loja estaria fechada para limpeza por três dias. Desconfiados, cerca de 20 funcionários apresentaram-se ao serviço na manhã seguinte e descobriram que o estabelecimento havia sido vendido. Todo o conteúdo da loja, incluindo máquinas e eletrodomésticos, estava a ser levado. Fundada em 1914, a pastelaria Lua-de-Mel da Rua da Prata era uma das mais antigas da Baixa Lisboeta e um marco também neste centro comercial de Oeiras, onde se acreditava que resistiria ao tempo.
«Adorava trabalhar na Lua-de-Mel, mas não me surpreende que tenha fechado. Principalmente, em Oeiras. Passámos de um movimento impressionante por dia a ter poucos clientes. E é claro que o centro comercial contribuiu para isso. Por vezes passo lá e percebo que se não fosse o supermercado… Já teria fechado há muito», lastima António. «Para além disso, tem o quê?_Uma loja de produtos esotéricos e não sei quantos salões de estética? Pois, para mim isso não representa o antigo Palmeiras», sublinha.
O Palmeiras Shopping funciona diariamente entre as 10h e as 23h, sendo que disponibiliza Wi-Fi gratuito e um elevador especial para facilitar o acesso de pessoas com mobilidade reduzida. O grande hall ainda recebe uma variedade de eventos, mas não tantos quanto antes. «Não tenho notado grande diferença na quantidade de clientes que atendemos porque o Pingo Doce continua a ser um supermercado muito conhecido e apreciado, mas a verdade é que não sei se isto vai continuar assim porque existem dias em que o Palmeiras está deserto», explica Ana (nome fictício), que trabalha naquele supermercado há mais de uma década.
Mas… Como é que começou a história do Palmeiras Shopping? No início dos anos 80, quando Francisco da Silva Santos, um empresário da construção civil originário de uma família humilde do Arneiro, próximo de Sassoeiros, no concelho de Cascais, decidiu investir num ambicioso projeto de construir um complexo de quatro torres residenciais. Após passar vários anos em França, em Saint-Germain-en-Laye, perto de Versalhes, Francisco retornou a Portugal em 1971 com a intenção de concretizar este seu projeto num país que ainda aguardava uma revolução para construir um novo futuro.
Assim nasceram as quatro torres de apartamentos na Quinta das Palmeiras, que foram nomeadas com nomes de cidades europeias – Lisboa, Londres, Paris e Madrid. José (nome fictício) trabalhou num estabelecimento do Palmeiras Shopping, mas tem receio de dizer qual e, por isso, apela igualmente ao anonimato. «Vi de perto a transformação de um lugar cheio de movimento para um espaço praticamente abandonado. O Palmeiras era um ponto de encontro popular e o estabelecimento em que trabalhava era um dos favoritos», lembra. «Mas, ao longo do tempo, comecei a perceber as mudanças. Novos centros comerciais começaram a abrir nas proximidades, mais modernos e com mais opções de entretenimento e compras. Aos poucos, o movimento foi diminuindo. Lojas ao nosso redor começaram a fechar, uma após a outra», recorda com tristeza, deixando claro que os corredores do centro comercial tornaram-se silenciosos e desolados.
Quem conhece igualmente bem esta situação é Helena (nome fictício), que teve um estabelecimento naquele centro comercial. «Arrependo-me até hoje. A verdade é que fiquei com imensas dívidas e só tive prejuízo. Não aconselho a abertura de uma loja ou seja que tipo de estabelecimento for naquele centro comercial porque está morto», declara com convicção. «O final foi um momento amargo, cheio de despedidas emocionadas e um sentimento de perda. Sabíamos que não era apenas o fim do nosso emprego, mas sim o início do fim de uma era para o Palmeiras porque não era a nossa a única loja a fechar», esclarece a antiga proprietária.
«O ambiente tornou-se pesado e a incerteza sobre o futuro era constante. Sabia que as conversas durante as pausas eram quase sempre sobre rumores de fecho e sobre onde encontrar outro emprego», indica. «Hoje, passo ocasionalmente pelo Palmeiras e mal o reconheço. As lembranças dos dias agitados parecem um sonho distante. Mas há sempre um ponto positivo: ter uma loja ali ensinou-me muito sobre resiliência e adaptação. O problema é que também deixou uma sensação de nostalgia por um tempo que não voltará», finaliza.
Inês também nutre essa nostalgia. Sabe que o marido comprou o seu anel de noivado numa ourivesaria do Palmeiras Shopping e ia com ele ao cinema todas as semanas naquele espaço quando ainda namoravam. «Tenho muitas saudades dos tempos áureos do Palmeiras. Cheguei a levar a minha filha mais velha a uma loja de brinquedos várias vezes e também frequento o Pingo Doce, mas admito que vou mais vezes a superfícies como o Oeiras Parque ou o CascaiShopping porque estão mais modernizadas e têm imensa escolha», observa a oeirense. «Espero que, um dia, alguém transforme o Palmeiras e lhe dê as oportunidades que merece. Por agora, acho que está com um ar triste e meio acabado. Não é justo que aquele que era um ponto de encontro acabe assim», diz, indo ao encontro da perspetiva de Ana Galvão, que partilhou o seu ponto de vista em janeiro deste ano no Instagram. «Estou aqui num centro comercial que me está a provocar uma nostalgia. É o centro comercial de Palmeiras, em Oeiras, e era o sítio onde eu vinha conhecer os rapazes», afirmou nas stories. «Tenho pena que agora as lojas estão assim… Há muitas lojas desertas nestes centros comerciais e eu fico com muita pena», confessou a radialista.
Os episódios inusitados e o futuro
Ao longo dos anos, o Palmeiras Shopping tem sido alvo de assaltos e histórias caricatas. Por exemplo, em 2004, uma jovem estava parada na Rua D. José I quando um homem de cerca de 35 anos entrou no seu carro. Assustada, a jovem não tinha o que ele queria e, sob ameaça, ligou primeiro para uma amiga, pedindo dinheiro e marcando um encontro, mas a amiga não apareceu. Então, contactou o namorado e combinaram encontrar-se no centro comercial. No local, o namorado entregou 70 euros ao ladrão, que exigiu mais e obrigou-o a entrar no carro. O rapaz sugeriu então que fossem até sua casa no Bairro das Amoreiras, próximo a Sassoeiros. Lá, pegou numa Playstation, num DVD e num telemóvel para entregar ao criminoso. Satisfeito, o ladrão ainda pediu para ser deixado na Abóbada e diz-se que só faltou agradecer a gentileza às vítimas.
Já em 2009, Eduardo Freitas, representante de uma marca de t-shirts, estabeleceu um então novo recorde mundial ao vestir 268 t-shirts simultaneamente, superando o recorde anterior registado no Guinness Book. O feito ocorreu no Palmeiras Shopping diante de uma plateia de aproximadamente 500 pessoas. Freitas começou a vestir as t-shirts por volta das 15h30 e alcançou a 268.ª t-shirt após duas horas.
Desde 2018, após o falecimento de Francisco em 2003 aos 70 anos, a gestão do Palmeiras Shopping passou para a sua única filha, Ana Maria Santos. A_LUZ entrou em contacto com a administração do centro comercial mas, até à hora de fecho desta edição, não obteve qualquer resposta. A história do Palmeiras Shopping serve como um lembrete das mudanças constantes no comércio e nos hábitos de consumo. Centros comerciais, que outrora eram símbolos de modernidade, podem rapidamente tornar-se obsoletos se não acompanharem as novas exigências do mercado e a evolução tecnológica. Este centro comercial, agora relegado ao esquecimento, é um exemplo de como o brilho do progresso pode, por vezes, ser efémero.