Família e trabalho: duas realidades difíceis de conciliar

Pouco se fala dos obstáculos que as jovens mães enfrentam quando voltam ao trabalho e ainda menos da dificuldade em encontrar um emprego compatível com a sua nova condição.

Muitas mulheres, ao retomarem a vida profissional depois da licença de maternidade, encontram no local de trabalho condições diferentes das que deixaram. Durante aqueles meses em que estiveram em casa com o bebé, foram ocorrendo modificações das quais a nova mãe só se apercebe depois. Por vezes quem a substituiu passa a ocupar o seu lugar ou as suas funções foram alteradas, até porque quando regressa, se usufruir da licença de amamentação – quando tem direito a ela – não vai estar 100% disponível nos próximos meses. E dificilmente voltará a estar nos próximos anos.

Muito se tem falado sobre a emancipação da mulher, a paridade salarial e a igualdade de direitos. Mas pouco se fala dos obstáculos que as jovens mães enfrentam quando voltam ao trabalho e ainda menos da dificuldade em encontrar um emprego compatível com a sua nova condição. Cada vez mais debate-se o tudo ou nada: ou a mulher trabalha ou a mulher cuida dos filhos. E se quiser fazer as duas coisas?

Há vários anos que a lei prevê a redução de horário para trabalhadores com filhos menores de 12 anos. No entanto, essa situação, além de não ser vista com bons olhos pelo empregador e pelos colegas, de não ser célere e de só estar ao dispor de quem possui um contrato individual de trabalho, tem uma duração máxima de dois anos (ou três, no caso de três ou mais filhos). Ou seja, os pais terão de escolher quais são os dois anos da vida dos filhos que vão querer acompanhar.

Assim, temos duas realidades: a das mães que depois de acompanharem os filhos nos primeiros tempos querem regressar à vida profissional ativa sem descurar a maternidade e que não conseguem encontrar um emprego com horário compatível; e a das mães que acabam por se sujeitar a um horário de trabalho inconciliável com as necessidades dos filhos, obrigando a deixá-los na escola muito para lá do tempo desejável. O ideal seria que pudesse haver um compromisso entre o casal, o que será difícil num país em que continua a ser valorizado quem pica o ponto de saída em último e visto com maus olhos quem cumpre o seu trabalho de forma eficiente sem constantes pausas para cafés e conversas.

Pais que, na melhor das hipóteses, tenham de cumprir um horário das 9h às 17h, a 30 minutos da escola dos filhos, terão de os deixar na escola necessariamente nove horas por dia, pelo menos. Já para não falar daqueles que não têm alternativa se não entregá-los às educadoras e auxiliares 10 ou mesmo 12 horas.

Neste sentido, em julho do ano passado, uma nova medida do Governo veio facilitar a abertura das creches à noite e ao fim de semana, o que na cabeça de muito boa gente faz lembrar as residências de acolhimento de crianças em perigo. Se existe esta necessidade, ainda que a lei preveja a flexibilidade de horário para os pais com crianças menores de 12 anos, é porque a legislação não chega a todos e na prática alguma coisa está longe de funcionar como devia. Se esta é a solução encontrada para resolver a falta de disponibilidade dos pais, só podemos concluir que algo muito errado e perigoso está a acontecer na forma como refletimos sobre este assunto e ‘ajudamos’ as famílias na nossa sociedade.

Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton