A importância de dizer Não

Dizer que não é conduzir a criança a seguir por um caminho seguro, é guiá-la, mostrar-lhe até onde pode ir, não só na relação com os pais, mas com o mundo e com ela própria

Muitos adultos têm dificuldade em rejeitar situações que não lhes agradam, que não desejam e que até lhes podem ser prejudiciais. Por insegurança ou culpabilidade muitas vezes preferem prejudicar-se ou abdicar do que querem para não desagradar ou desiludir os outros. Nas famílias, por exemplo, essa situação é recorrente, e vê-se frequentemente na dificuldade que alguns filhos adultos têm em dizer não aos pais, chegando a comprometer, em algumas situações, a sua emancipação.

Curiosamente, numa outra fase da vida, sobretudo nos dias de hoje, assiste-se precisamente ao contrário: pais que não conseguem dizer que não aos filhos porque acreditam que para os fazerem felizes não os podem contrariar. 

Na verdade, dizer que sim até é muito mais simples e traz muito menos aborrecimentos. Ficam todos amigos, fazem boa figura e o assunto fica arrumado. Já dizer que não é um ‘cabo dos trabalhos’. Implica zangas, que implicam chatices, birras, amuos, insistências exasperantes e ainda a eventualidade de acabar como o pai mau com uma criança triste e injustiçada a chorar por sua causa. Claro, ser contrariado não é nada agradável! Mas inevitavelmente acabará por acontecer e quanto menos ferramentas se tiver para lidar com essa frustração mais difícil será.

Não vale a pena dizer que não a tudo e mais alguma coisa. Pelo contrário, convém definir aquilo que é realmente importante negar ou proibir e explicar porquê. Fazer ver que há coisas que não são mesmo permitidas, que não serão negociáveis e que são os pais que têm a responsabilidade de tomar essas decisões.

Quando querem alguma coisa que lhes é negada, os filhos já jovens passam habilmente a ideia de que os pais dos outros deixam sempre tudo, são muito mais permissivos, muito mais porreiros, com uma mentalidade muito mais aberta e muito mais compreensivos. Há uma chantagem implícita que leva muitos pais a acreditar que não só são os chatos, como são os pais mais chatos de todos. E ninguém quer ser ‘O chato’! O que muitas vezes acaba por levar muitos corações moles ou mais inseguros, movidos por este jogo emocional, a permitir aquilo que não acham sensato.

Os pais têm um lugar muito mais importante do que o do amigo porreiro. Têm o papel chato, cansativo e muitas vezes ingrato de balizar, de educar, de guiar. Dizer que não (na altura certa) é conduzir a criança – para quem não há limites – a seguir por um caminho seguro, é guiá-la, mostrar-lhe até onde pode ir, não só na relação com os pais, mas com o mundo e com ela própria. É não permitir que mantenha a ilusão de que ocupa o centro do mundo, mas oferecer-lhe um lugar seu. Pelo contrário, abandoná-la à sua vontade é deixá-la crescer sem limites e sozinha. É mostrar-lhe que é ela que manda, que não há ninguém capaz de a conter ou guiar, que está por sua conta.

Dizer que não é um ato de amor e de preocupação. É oferecer uma bússola que se guarda para sempre, que será essencial para a ajudar a desbravar os caminhos mais sinuosos e imprevisíveis da vida.