Ao ler a página 431 da História da Vida Privada (edições Afrontamento) descubro a seguinte citação de um operário: «Não é por se ser comunista, forçosamente, que se é alguém fabuloso. Conheço comunistas imbecis. Evidentemente… temos de os aceitar. Mas, ao contrário dos outros imbecis, estes são imbecis comunistas… Mesmo com essa imbecilidade, eles tomam parte activa na transformação da sociedade». Eis o momento dialéctico em que Marx é superado na definição do Comunismo. O ponto central do Comunismo não é a luta de classes, mas a imbecilidade. Tão perfeita é esta ideologia que, ao seu serviço, o mais imbecil dos imbecis, a suprema besta, o perfeito mentecapto, se transforma num elemento de transformação da sociedade.
Mais nenhuma ideologia política consegue extrair dos piores seres humanos algo de bom. Um imbecil social-democrata, socialista ou liberal, será sempre um imbecil e irá prejudicar o seu partido. Porém, o imbecil comunista, qual mostrengo transformado em belo príncipe, consegue ajudar a melhorar o mundo. Contudo, se o imbecil comunista dá o mesmo contributo que o militante não imbecil, se ambos tomam parte ativa na construção do paraíso na Terra, então talvez dentro do Comunismo seja difícil a destrinça entre uns e outros. Isto, sim, é uma sociedade igualitária.
Seriam, portanto, Marx, Lenine, Estaline e Mao verdadeiros imbecis?
Mas antes de abordarmos a grande imbecilidade comunista, comecemos pela pequena. Por exemplo, a imposição do Realismo Socialista por Andrei Zhdanov – que subordinou as artes e as letras à propaganda comunista –, liquidando o modernismo russo, foi uma grande imbecilidade. A intromissão do Partido na vida privada dos militantes, a colher entre o marido e a mulher, foi também um bom exemplo de imbecilismo – foi pena não terem tratado das sogras porque, isso sim, seria benéfico para a Humanidade. Por fim, a descriminação das mulheres e a perseguição aos homossexuais foram decisões profundamente imbecis.
Além disso, serão igualmente imbecis as centenas de intelectuais e artistas que desde a Revolução de Outubro apoiam os regimes comunistas, fechando os olhos às violações dos direitos humanos? E que dizer dos jornalistas e comentadores que admiram a ditadura cubana e justificam a invasão da Ucrânia pela Rússia? Haverá assim tanto imbecil neste mundo?
Como tenho dúvidas, socorro-me das palavras de Lenine: «Um imbecil pode, por si só, levantar dez vezes mais problemas que dez sábios juntos não conseguiriam resolver». Deste modo, torna-se claro que o Comunismo valorizou mais o imbecil do que o sábio e que levantar problemas é mais importante do que os resolver. Foi por isso que nos regimes comunistas os seus imbecis criaram tantos problemas sem solução que, ainda hoje, os sábios capitalistas têm dificuldade em resolver.