Pesquisas recentes destacaram a possível conexão entre tratamentos para a diabetes e o risco de desenvolver demência, assim como o impacto da diabetes no envelhecimento cerebral. Um grande estudo realizado na Coreia do Sul, publicado no BMJ, explorou os efeitos dos inibidores de cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT-2), um medicamento para diabetes tipo 2, no desenvolvimento de demência. O estudo analisou dados de mais de 220 mil indivíduos com idades entre os 40 e 69 anos com diabetes tipo 2 que não tinham diagnóstico de demência no início do estudo.
Os participantes que usavam inibidores de SGLT-2 – em Portugal são comercializados o Forxiga e o Xigduo – apresentaram um risco 35% menor de desenvolver demência em comparação com aqueles que tomavam inibidores da dipeptidil peptidase-4 (DPP-4), outro tipo de medicamento para diabetes. Em território nacional, são comercializados fármacos como a Alogliptina e a Linagliptina. Especificamente, os inibidores de SGLT-2 foram associados a uma redução de 39% no risco de doença de Alzheimer e de 52% no risco de demência vascular.
O estudo é observacional, o que significa que não pode estabelecer uma relação de causa e efeito, mas sugere um possível efeito protetor dos inibidores de SGLT-2 contra a demência. Segundo o The Guardian, Jacqui Hanley, da Alzheimer’s Research UK, considera os resultados promissores, destacando a necessidade de medicamentos reaproveitados e mais acessíveis para tratar a demência. No entanto, o Professor William Whiteley, da British Heart Foundation, sugere que os resultados podem ter sido influenciados pelo desenho do estudo, em vez de refletirem um verdadeiro efeito causal.
Outro estudo publicado na Diabetes Care por investigadores do Instituto Karolinska utilizou exames de ressonância magnética (MRI) para avaliar como a diabetes e a pré-diabetes afetam o envelhecimento cerebral. O estudo envolveu mais de 31 mil participantes, entre os 40 e 70 anos, do UK Biobank. Tanto a diabetes quanto a pré-diabetes foram associadas ao envelhecimento acelerado do cérebro. A pré-diabetes foi associada a cérebros que aparentavam ser 0,5 anos mais velhos, enquanto a diabetes foi associada a cérebros que aparentavam ser 2,3 anos mais velhos do que a idade cronológica dos participantes.
Para aqueles com diabetes mal controlada, o cérebro aparentava ser mais de quatro anos mais velho do que o esperado. O estudo também observou que pessoas ativas fisicamente, que evitavam fumar e consumir álcool em excesso mostraram um menor grau de envelhecimento cerebral.
Os resultados sugerem que manter um bom controlo da diabetes e adotar um estilo de vida saudável pode potencialmente mitigar o risco de envelhecimento cerebral acelerado e demência. Ambos os estudos sublinham a complexa relação entre diabetes, demência e saúde cerebral. Enquanto o uso de medicamentos para a diabetes, como os inibidores de SGLT-2, pode oferecer alguns benefícios protetores contra a demência, os fatores de estilo de vida desempenham um papel crucial na gestão dos riscos associados à diabetes e ao envelhecimento cerebral. Contudo, são necessários mais ensaios clínicos e também mais pesquisas para confirmar estas descobertas e desenvolver estratégias eficazes de prevenção.
De acordo com a Direção-Geral de Saúde (DGS), o custo dos medicamentos para a diabetes aumentou quase 50% nos últimos quatro anos, passando de 367 milhões de euros em 2017 para 532,2 milhões de euros em 2021. Esse aumento deve-se ao crescimento no número de diagnósticos e aos preços mais elevados dos medicamentos mais recentes. O Programa Nacional para a Diabetes: Desafios e Estratégias 2023, divulgado no Dia Mundial da Diabetes, revela que 2,76 milhões de pessoas em Portugal têm risco de desenvolver diabetes tipo 2, e cerca de 8,4% dos utentes (883.074 pessoas) já sofrem da doença.
Em 2021, a diabetes foi responsável por 3.474 mortes, representando 2,8% das mortes no país, com aproximadamente 10% desses óbitos a ocorrerem em pessoas com menos de 70 anos. Embora a taxa de mortalidade por diabetes tenha diminuído desde 2017, a doença ainda resultou na perda de 2.770 anos potenciais de vida para pessoas abaixo dos 70 anos.
O relatório destaca a importância de um rastreio precoce da retinopatia diabética e de ações para promover estilos de vida saudáveis, prevenção e diagnóstico precoce, que são medidas fundamentais para reduzir a incidência e as complicações associadas à diabetes. Além disso, o tratamento da diabetes tipo 1 com sistemas de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (PSCI) é apontado como benéfico, melhorando o controlo glicémico e a qualidade de vida dos doentes. A DGS recomenda a introdução e comparticipação de novos dispositivos automáticos de administração de insulina pelo Sistema Nacional de Saúde (SNS) devido às suas vantagens na gestão da doença e na melhoria da qualidade de vida.