Países vinícolas. Vinhos do outro mundo

A riqueza do vinho pode avaliar-se pela importância que tem em qualquer parte do mundo, onde os melhores produtores são responsáveis por conceber néctares que nos surpreendem e entusiasmam.

A cultura da vinha evoluiu ao longo dos tempos proporcionando experiências únicas a quem aprecia o néctar dos deuses. Consolador de corações e salvador de almas, o hábito de beber vinho esteve sempre presente no quotidiano do Homem. Cada país tem regiões vinícolas com características únicas, que refletem a influência do ambiente onde são cultivadas as uvas, nomeadamente o solo, clima e topografia, sem esquecer o talento dos produtores.

Os vinhos portugueses têm aumentado de qualidade, alguns são referência internacional, mas há muita coisa por descobrir noutras paragens. As melhores regiões do mundo encontram-se na Europa, especialmente em França, Itália e Espanha, mas os chamados países do Novo Mundo como os EUA, Chile e Austrália têm igualmente vinhos de elevado gabarito. O Decanter World Wine Awards, a maior e mais influente competição de vinhos, elegeu as regiões onde se produzem os melhores néctares do mundo, a saber: Bordeaux (França), Toscana (Itália), Mendoza (Argentina), Napa Valley (EUA), Douro (Portugal), Kakheti (Geórgia), Palatinat (Alemanha) e Stellenbosch (África do Sul).

A produção mundial de vinho manteve-se estabilizada nos últimos anos. Contudo, os dados mais recentes da Organization of Vine and Wine (OIV) revelam que a produção caiu para 237,3 milhões de hectolitros (- 9,6%) em 2023, mesmo assim continua a ser das bebidas mais consumidas em todo o mundo. A título de curiosidade, transformando em garrafas (750 ml), a produção mundial engarrafou-se em 31,5 mil milhões de garrafas.

Esta quebra é justificada pelas condições climatéricas adversas, com chuva forte, seca extrema e geada precoce, mas também pelos incêndios florestais, proliferação doenças fúngicas (oídio e míldio), que destroem as plantações nas principais regiões produtoras de vinho da União Europeia e no Hemisfério Sul, a que se junta uma significativa subida de preços.

De salientar que 81,7% da produção de vinho pertence a 10 países, mas há igualmente produção nos locais mais inóspitos do planeta como, por exemplo, no deserto de Gobi, na China. A abundante luz solar, a boa irrigação dos campos e um clima propício tornaram esse vasto deserto um campo ideal para o cultivo de uvas para produção de vinho.

A França lidera o ranking dos maiores produtores de vinho do mundo com 48,8 milhões de hectolitros, seguida pela Itália com uma produção de 38,3 milhões e da Espanha com 28,3 milhões. Os Estados Unidos continuam a produzir em grande quantidade alcançando os 24,3 milhões, seguido pelo Chile com 11 milhões de hectolitros. Portugal ocupa a 10.ª posição e confirma que é um forte produtor com um volume de 7,3 milhões de hectolitros – é o quarto maior produtor europeu e um dos três países do mundo que aumentou a produção (+ 9,8%) relativamente ao ano anterior. Há um dado factual e muito significativo: os países europeus dominam o mercado do vinho e representam 48,2% da oferta mundial, seguidos pelos países do continente americano com 18,5% da produção mundial.

As referências A França é mundialmente conhecida pela moda, gastronomia e por produzir uma grande variedade de bons vinhos, desde os robustos tintos, até aos elegantes brancos, passando pelos esplendorosos espumantes. É frequentemente citado pelos grandes enólogos com o país líder na produção de vinhos de elevada qualidade, o que explica que seja o maior exportador mundial com um volume de 11,9 mil milhões de euros em 2023. Há 10 grandes regiões vitícolas, algumas são das mais antigas e famosas do mundo, caso de Bordeaux, reconhecida pela excelência dos vinhos tintos produzidos a partir das castas Cabernert Sauvignon e Merlot, da Borgonha, referência pelos tintos Pinot Noirs e os brancos Chardonnays, e a região do Champagne, mundialmente conhecida pelos espumantes, que representam 8% da produção total de vinho em França. Cada região tem caraterísticas muito próprias e os produtores franceses são especialistas em explorar as potencialidades de cada região e das castas que dispõem, caso do Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Pinot Noir, consideradas o “crème de la crème”. Entre os produtores franceses de renome estão Château Margaux, Domaine de la Romanée-Conti e Dom Pérignon.

A Itália é o país da “dolce vita”, mas também dos grandes vinhos. Beneficia da variedade climática e de bons solos para produzir vinhos com caraterísticas únicas, podemos dizer que rivaliza com a França no que diz respeito à variedade e qualidade. São reconhecidos a nível mundial os tintos robustos da Toscana, como o Brunello di Montalcino e o Chianti, e de Piemonte, caso do Barolo e Barbaresco, ao passo que a zona de Veneto é especializada nos elegantes vinhos brancos como o Prosecco. Antinori, Barolo e Gaja são os produtos mais representativos da indústria vinícola italiana, que exportou o ano passado qualquer coisa como 7,7 mil milhões de euros.

A Espanha é outro grande protagonista no panorama mundial com extensas áreas dedicadas ao cultivo da vinha, destacando-se a região de Rioja com os seus tintos elaborados a partir das castas Garnacha e Graciano e envelhecidos em carvalho. A Catalunha é muito famosa pelos espumantes Cava, feitos a partir das castas Xarello e Macabeo. A produção de cava representa 95% dos vinhos efervescentes produzidos em Espanha, que é o segundo maior produtor do mundo deste tipo de vinho, logo a seguir a França. Os vinhos de Jerez são, igualmente, conhecidos e apreciados em todo o mundo. Os produtores Vega Sicilia, Torres e Marqués de Murrieta destacam-se pela qualidade dos seus produtos, que renderam 2,9 mil milhões de euros no mercado de exportação.

A produção de vinho nos EUA está em crescimento, nomeadamente na Califórnia, com as regiões de Napa Valley e Sonoma a serem as mais importantes. A parceria com reputados produtores franceses resultou na produção de vinhos californianos de qualidade superior, especialmente os Cabernet Sauvignon dee Valle de Napa, Chardonnay e Pinot Noir, que se caraterizam pela sua complexidade, estrutura e potencial de envelhecimento. Existem outras regiões, caso de Washington, Missouri, Virgínia, Nova Jersey, Michigan e Texas, que apresentam vinhos de reconhecida qualidades. As exportações ficaram-se pelos 1,1 mil milhões de euros.

Já o Chile tem um clima e uma localização geográfica ideal para o cultivo de vários tipos de uva originárias de França, oferecendo vinhos de excelente qualidade e que fazem com que seja um dos maiores produtores de vinho do mundo. Entre as regiões produtoras, destaque para o Valle Central, maior região vinícola do país, Aconcágua, Valle de Itata e Atacama. Os vinhos chilenos são caracterizados pela enorme diversidade de estilos, destacando-se o emblemático Carménère, que tem a sua origem em Bordeaux. O Chile foi o quarto maior exportador global com um valor de 1,4 mil milhões de euros. Ainda no continente sul-americano temos os vinhos tintos argentinos que se distinguem pelo seu caráter intenso com destaque para o Malbec. Com a chegada dos imigrantes europeus no século XIX foram implantadas novas técnicas de cultivo e introduzidas novas castas europeias diversificando os tipos de vinho e aumentando a qualidade. O valor global das exportações em 2023 caiu para 600 milhões de euros

Os vinhos australianos são diferenciam-se por serem intensos e oferecer sabores audazes e únicos. Diferenciam-se também por serem produzidos com a ajuda da tecnologia e técnicas de produção inovadoras. A Austrália não possui nenhuma variedade de uva nativa do seu território e os melhores vinhos são produzidos com a casta Syrah. O volume de exportação de vinho diminuiu significativamente para 1,2 mil milhões de euros. As condições climatéricas da Nova Zelândia permitem produzir brancos fantásticos e complexos, assim como tintos finos e saborosos. A maioria das suas castas são originárias de Franças e o destaque principal vai para o fresco e aromático Sauvignon Blanc.

A África do Sul produz uma grande variedade de vinhos, que se caracterizam pelo seu equilíbrio resultante do clima temperado, com verões agradáveis e invernos frios, e das condições do solo. Praticamente só utiliza castas internacionais para produzir uma grande variedade de vinhos, esse facto faz com que possamos encontrar qualquer tipo de vinho na África do Sul. Desde vinhos brancos frescos com ótima textura e aromas diferenciados, até vinhos tintos encorpados, intensos de boa acidez.

Maiores consumidores As estatísticas das OIV mostram que os EUA lideram no consumo de vinho, com 33,5 milhões de hectolitros, um valor superior àquilo que produz (23,5 mil milhões). Os países europeus estão em destaque no top 10 dos maiores consumidores de vinho. Se analisarmos o consumo de vinho per capita, então, Portugal é o campeão com uma média de 52 litros por habitante, a Itália (36 litros) e a França (35 litros) surgem logo a seguir.