O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sido, desde a sua criação, uma pedra angular do bem-estar social em Portugal, garantindo o acesso universal e equitativo a cuidados de saúde. No entanto, nas últimas décadas, tem enfrentado desafios significativos, muitos dos quais resultam de uma falta de apoio estruturado a todos os profissionais que nele trabalham. Como médico, sinto profundamente a necessidade de uma reflexão séria e crítica sobre o atual estado da saúde em Portugal, uma reflexão que nos leva a questionar as prioridades e o papel das instituições, que deveriam liderar com responsabilidade e visão.
Um dos aspetos mais preocupantes é a falta de apoio aos profissionais de saúde que, diariamente, enfrentam condições de trabalho adversas, com recursos limitados e uma pressão crescente. A sobrecarga de trabalho e a escassez de recursos humanos têm consequências diretas na qualidade dos cuidados prestados e na saúde dos próprios profissionais, que muitas vezes se veem forçados a fazer sacrifícios pessoais e profissionais para manter o sistema a funcionar.
A desinformação e a incerteza que pairam sobre o setor médico não são apenas um reflexo da conjuntura atual, mas também um sintoma de uma falta de liderança unificadora por parte da Ordem dos Médicos. Em vez de promover uma cultura de cooperação e solidariedade entre os profissionais, a Ordem tem, por vezes, contribuído para a criação de tensões internas. A divisão e o medo apenas enfraquecem a nossa capacidade de responder eficazmente aos desafios do sistema de saúde.
É imperativo que a Ordem dos Médicos se reposicione como uma força unificadora, capaz de liderar com responsabilidade e promover uma cultura de confiança entre os médicos. Precisamos de uma liderança que una os médicos em torno de um objetivo comum: a prestação de cuidados de saúde de qualidade para todos. A Ordem dos Médicos tem um papel crucial na qualidade da formação médica, e é essencial que assuma esta responsabilidade de forma proativa, desenvolvendo estratégias que assegurem a excelência da formação e a sua adequação às necessidades reais do país.
A falta de investimento na área da Medicina Geral e Familiar, o encerramento de serviços de urgência por ausência de recursos humanos e por uma reestruturação que não existe, as listas de espera a aumentar e os atrasos no atendimento, são questões que não podem ser ignoradas ou mascaradas por debates intermináveis sobre o financiamento, a gestão ou a introdução de novas tecnologias.
Embora essas discussões sejam importantes, não podem ser vistas como um fim em si mesmas, mas sim como um meio para melhorar efetivamente o SNS. O verdadeiro impacto destas discussões deve ser medido pela capacidade de reduzir as listas de espera e aumentar a eficiência do atendimento.
Está na hora de cumprirmos as promessas de vários governos: um Serviço de Saúde para todos, que seja verdadeiramente acessível, eficaz e capaz de responder às necessidades da população. Este é o momento de unir esforços e construir um sistema de saúde que seja motivo de orgulho para todos os portugueses.
A Ordem dos Médicos deve estar à altura deste desafio, liderando com uma visão clara e unificadora, promovendo a formação de qualidade e garantindo que os médicos tenham o apoio necessário para exercerem a sua missão com excelência. Só assim poderemos garantir um futuro, em que a autonomia funcional e a responsabilidade dos profissionais seja comprovada.