Portugal tem assistido, ao longo das últimas décadas, a um processo de litoralização que concentra a maioria da população e dos recursos económicos nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Este fenómeno, embora compreensível pela dinâmica económica global, mas sobretudo pelas opções políticas, tem consequências graves para o ‘todo nacional’, e em particular para o interior do país, que enfrenta desafios como a desertificação humana, o envelhecimento populacional e a escassez de oportunidades. No entanto, é precisamente no interior que reside um potencial inexplorado para o desenvolvimento sustentável e equilibrado de Portugal.
É necessário repensar a distribuição dos recursos e das oportunidades em Portugal.
O desenvolvimento sustentável de Portugal requer uma estratégia nacional que promova a descentralização, incentivando o investimento no interior e apoiando as comunidades locais na criação de novas oportunidades económicas.
A valorização do interior passa pela capacidade de combinar a preservação da cultura e das tradições locais com a integração de elementos de modernidade que possam atrair novos investimentos e melhorar a qualidade de vida das populações.
A cultura e as tradições locais são ativos fundamentais neste processo. A autenticidade e a riqueza cultural das regiões interiores são cada vez mais valorizadas num mundo globalizado onde as pessoas procuram experiências únicas e ligadas ao território. No entanto, para que estas tradições possam ser um verdadeiro motor de desenvolvimento, é essencial que sejam acompanhadas por investimentos em infraestruturas, educação, saúde e inovação. Só assim o interior poderá competir com as grandes cidades do litoral e oferecer uma qualidade de vida atraente para novas gerações de residentes.
A Feira de São Mateus, em Viseu, é um exemplo significativo desta estratégia. Este evento, com mais de 632 anos de história, consegue atrair, anualmente, cerca de um milhão de visitantes, incluindo muitos emigrantes que regressam ao país no verão.
Este regresso dos nossos emigrantes reforça o compromisso de criar condições para que estes conterrâneos possam vir a considerar um regresso definitivo ou um investimento sustentado nas suas terras de origem. A melhoria das acessibilidades, a infraestruturação, a criação de riqueza através da promoção de uma economia mais diversificada são passos essenciais para tornar o interior uma opção mais viável para viver e trabalhar.
No entanto, a discussão sobre a valorização do interior não pode ficar limitada ao sucesso de eventos específicos ou de cidades como Viseu, que se destaca em vários indicadores de qualidade de vida, liderando indicadores em áreas como segurança, ambiente e qualidade e disponibilidade de infraestruturas e serviços urbanas. Este exemplo é importante, mas o verdadeiro desafio é como replicar este sucesso noutros territórios do interior, muitos dos quais não têm a mesma visibilidade ou capacidade de atração de investimentos.
O futuro de Portugal passa por um desenvolvimento mais equilibrado e inclusivo. A interioridade deve ser encarada como uma oportunidade para criar novos modelos de desenvolvimento que respeitem a identidade local e promovam a sustentabilidade. Viseu serve como uma referência neste processo, mas o desafio é muito maior: é necessário garantir que todas as regiões do interior consigam alcançar iguais níveis de desenvolvimento económico e social.