O estudo da espécie de dinossauro saurópode descoberta na região de Cuenca, na Península Ibérica – publicado na revista científica Communications Biology -, começou a tomar forma em 2007, durante as obras da linha de alta velocidade entre Madrid e Valência, quando os primeiros fósseis foram encontrados. “Estava na especialidade nesse grupo de dinossauros e convidaram-me para fazer parte do estudo em 2014”, começa por contar Pedro Mocho, referindo-se ao início da sua participação na equipa ibérica de investigadores que embarcou numa aventura para saber mais sobre esta espécie que viveu no Mesozoico, que abrangeu as eras Triássica, Jurássica e Cretácea.
O foco do estudo são os saurópodes, dinossauros caracterizados pela sua cauda e pescoço longos e, também, pelo crânio pequeno em relação ao corpo. “No caso dos Qunkasaura, que podiam atingir até 20 metros de comprimento, são animais quadrúpedes”, explica o doutor em Biología y Ciencias de la Alimentación pela Universidade Autónoma de Madrid e pós-doutorado no Dinosaur Institute do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles, comparando a figura do dinossauro a uma personagem do filme Em Busca do Vale Encantado.
A história segue um grupo de jovens dinossauros que estão numa jornada para encontrar o ‘Grande Vale’, um paraíso onde há comida em abundância, enquanto o mundo em seu redor está a tornar-se um deserto inóspito. O protagonista é Littlefoot (Pé Pequeno), um jovem Apatossauro que se vê separado da sua família após um terramoto e deve liderar os seus amigos na perigosa jornada para encontrar o vale encantado. Os seus amigos incluem Cera, uma Triceratops teimosa; Patassaura, uma Saurolophus alegre; Spike, um Espinossauro mudo e leal; e Petri, um Pteranodon medroso.
A descoberta é significativa porque revelou a presença de duas linhagens evolutivas distintas em território europeu, algo até então inédito. “Identificámos esta nova linhagem que, em princípio, caracteriza-se por animais de maior porte”, menciona o investigador, referindo-se à nova espécie encontrada em Cuenca. Sabe-se que há evidências de que algumas espécies poderiam ter adotado uma postura bípede ocasionalmente, mas a maioria era quadrúpede.
O investigador também destacou as dificuldades enfrentadas pelos dinossauros para dispersar-se devido às características geográficas da época, quando a Europa era um grande arquipélago. “Essas ilhas, mais pequenas ou maiores, impediam que as espécies se expressassem de uma forma mais ou menos contínua”, frisa, sendo que os saurópodes cresciam rapidamente em relação a outros dinossauros, com estudos a sugerirem que poderiam atingir o seu tamanho colossal em apenas algumas décadas.
Sobre a escolha do nome para a nova espécie, Pedro Mocho revela que foi uma decisão coletiva, inspirada tanto pela geografia quanto pela cultura locais. “A ideia de começar por ‘Qunka’ tem a ver com o facto de ser a etimologia mais antiga do topónimo da área de Cuenca e Fuentes. Quanto a ‘Saura’, alude ao feminino do latim saurus, que significa lagarto. E também ao pintor Antonio Saura. ‘Pintiquiniestra’ alude à personagem de um romance citado em Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes”, esclarece. A referência à Rainha Pintiquiniestra exemplifica o caráter quixotesco de transformar a realidade numa grande aventura de cavalaria. Cervantes utiliza essas referências para satirizar e criticar os exageros e absurdos dos romances de cavalaria populares à época.
Relativamente às perspetivas futuras, o paleontólogo está otimista. “Continuamos a estudar os dinossauros. Há imensos fósseis naquela zona e esperamos continuar a estudá-los! Penso que haverá novidades em breve”, conclui, antecipando novas descobertas na região.