Veraneio

Querida avó, Chegamos ao fim de mais um mês de agosto, para muitos, o fim do veraneio. Em menos de nada, quando olharmos para as montras das lojas já estarão todas com decorações de Natal. A semana começou com um grande susto para grande parte dos portugueses. Na passada segunda-feira, os relógios batiam as 5h10…

Querida avó,

Chegamos ao fim de mais um mês de agosto, para muitos, o fim do veraneio. Em menos de nada, quando olharmos para as montras das lojas já estarão todas com decorações de Natal.

A semana começou com um grande susto para grande parte dos portugueses. Na passada segunda-feira, os relógios batiam as 5h10 quando muitos foram acordados por um abalo. Confesso que só dei por isso através das redes sociais onde vi os primeiros relatos, inclusive o teu?

Depois de duas semanas com notícias dos fortes incêndios na Ilha da Madeira, com centenas de notícias sobre as maternidades encerradas, com a continuação das guerras… e antes dos assuntos quentes da “rentrée política” e do “regresso às aulas” só faltava este abalo, sísmico.

Como tem sido esse veraneio?

Bom, uma vez que vives na Ericeira, passar as férias de verão num lugar agradável, diferente do habitual, geralmente perto do mar, para ti não tem o mesmo significado do que para a maioria.

Cada vez que vou para a praia imagino como seriam as idas à praia antigamente. Quando homens, mulheres e crianças, mergulhavam vestidos, sob o olhar atento do banheiro. Muita coisa foi mudando ao longo dos tempos.

Espero que possamos continuar a viver em liberdade e democracia. Imagino a escandaleira que foi quando mulheres como a Guida Maria, a Io Appolloni ou a Florbela Queiroz (entre outras), começaram a aparecer nas praias de maminhas ao léu. Já viste como estão, novamente, as mulheres afegãs?

Na Venezuela o “verão também tem sido muito quente”!

Enfim, o que diria o avô Mário (Castrim) de tudo isto?

Vemo-nos este fim de semana, em Beja, onde iremos inaugurar a tua exposição e realizar umas sessões de autógrafos.

Preveem-se temperaturas tórridas, e não tem a ver (apenas) com a tua presença.

Bjs


Querido neto,

Nem me digas nada! Ainda bem que não deste pelo sismo. Logo tu que acordas com o cair de uma pena. Aqui na Ericeira senti bastante. Foi muito forte. Que susto.Neste ano em que temos celebrado os 50 anos de Abril, não posso deixar de espantar-me com o PCP por posições sobre a Venezuela e a Ucrânia.

Ainda há bem pouco tempo ouvia o comentário do nosso amigo LMM, sobre este assunto, onde referiu que o «Partido Comunista Português claramente entrou numa via de loucura, completamente suicida». Imagina que esta situação até foi contestada pelo partido comunista da Venezuela. E o PCP, logo a seguir às eleições, saudou Maduro e o regime…

A Venezuela anda nas bocas do mundo. Por más razões, infelizmente.

Estive na Venezuela há alguns anos, (Hugo Chávez era então o presidente), enviada pelo Instituto Camões, para festejar o 10 de Junho, com a comunidade portuguesa de Caracas.

Cheguei de noite e logo à saída do aeroporto a paisagem era extraordinária: luzes e mais luzes no que devia ser um grande monte.

«Que lindo!», exclamei.

«Amanhã trago-a cá», disse o senhor, português, em casa de quem eu ia ficar.

E de manhã, descubro que aquilo não passava de um enorme bairro de lata, com uma lâmpada nas janelas de algumas casas.

Logo me avisaram de que eu nunca devia sair de casa sozinha. Claro que eu não liguei e andei por um lindo jardim que ali havia.

No dia seguinte soube que, de um lado do jardim, havia um grupo e do outro lado havia outro, com armas nas mãos para lutarem logo ali. E eu a passar, tranquilamente, pelo meio. Também logo me disseram que nunca levasse o braço de fora da janela do carro porque alguém podia passar, dar-me um empurrão no braço, e roubar-me a carteira.

Mas todos pareciam conviver muito bem com tudo isso, e o 10 de Junho foi uma grande festa! E fiz amigos que conservo até hoje.

Espero que tudo se resolva rapidamente.

Bjs