Rebecca Cheptegei. A trágica perda de uma atleta em ascensão

1991-2024. Entre o luto e a reflexão sobre a violência de género.

É a terceira atleta de destaque a ser assassinada no Quénia desde outubro de 2021. Cheptegei, que terminou em 44º lugar na maratona dos Jogos Olímpicos de Paris, foi atacada pelo seu ex-namorado na sua casa no Condado de Trans-Nzoia. Após a tragédia, foi internada no Hospital de Referência e Ensino de Moi, em Eldoret, onde faleceu esta quinta-feira, devido à falência de órgãos.

O agressor de Cheptegei também ficou ferido e está na unidade de terapia intensiva com 30% do corpo queimado. O ministro do Desporto do Quénia, Kipchumba Murkomen, afirmou que a morte de Cheptegei é uma perda para toda a região e destacou a necessidade urgente de combater a violência de género.

Já a Federação de Atletismo do Uganda pediu justiça pela atleta e o pai de Cheptegei solicitou proteção para as filhas de Rebecca – que não têm o agressor como progenitor – e propriedades da atleta. Segundo Joseph Cheptegei, em entrevista ao queniano The Star, Rebecca e o alegado parceiro discutiam por causa das terras que a desportista possuía em Endebes, em Trans-Nzoia. «Eles eram apenas amigos e pergunto-me por que ele queria tirar coisas pertencentes à minha filha», deixou claro.

Supostamente, os dois estavam separados há muito tempo mas, no domingo, o homem terá entrado furtivamente na casa onde encenou o ataque. Terá planeado tudo, levando um bidão de cinco litros de gasolina consigo. Cheptegei tinha ido à igreja com as filhas e, quando voltou, o homem atirou-lhe gasolina e pegou fogo ao seu corpo. Os vizinhos, em pânico, resgataram tanto a vítima como o agressor, que foram levados urgentemente para o hospital em estado crítico.

A violência contra mulheres no Quénia é alarmante e, de acordo com os dados mais recentes, 34% das mulheres e meninas entre os 15 e 49 anos sofrem violência física e 41% das mulheres casadas enfrentam abuso. O assassinato de Cheptegei traz à tona o problema crescente de violência contra mulheres no desporto e na sociedade em geral, refletindo a necessidade de uma abordagem mais rigorosa para enfrentar este problema.

Rebecca, de apenas 33 anos, dava o seu melhor para se destacar no atletismo. E conseguiu. O seu primeiro grande marco foi há 14 anos, quando começou a carreira com uma 15ª colocação no Campeonato Mundial de Cross Country na categoria Sub-20 e venceu a corrida de 1500m em Munique. Entre 2017 e 2021, a sua carreira não teve tantos momentos brilhantes mas, quando observamos os 14 anos em que competiu, percebemos que a maioria foi repleta de conquistas. Antes da brilhante participação nos Jogos Olímpicos, em 2023, ficou em 2º lugar na Maratona de Firenze e 14º no Campeonato Mundial de Atletismo em Budapeste.