We are the world…

Quem não se lembra do impacto da música de Michael Jackson e Lionel Richie We are the world?

Quando era pequeno, lembro-me de não querer comer algumas coisas e a minha mãe dizia-me: ‘Se os meninos do Biafra tivessem isto ficariam todos contentes’. Aquele era um tempo em que as televisões nos ajudavam a compreender as dificuldades que se concentravam no continente africano.

Quem, dos mais velhos, como eu, não se lembra do impacto da música de Michael Jackson e Lionel Richie We are the world?… Quem não se lembra daquelas imagens que apareciam na televisão de crianças subnutridas na Etiópia e em outros países subnutridos? Quem não se lembra das ajudas que chegavam àqueles países e eram lançados de camiões sacos de cereais? Quem não se lembra daquela gente que corria atrás desses mesmos camiões?

É triste relembrar aqueles tempos! É triste pensarmos que há mais de trinta anos havia toda aquela miséria! Era eu pequeno aquando daqueles acontecimentos e as imagens nunca mais me saíram da memória. De tal forma que quando pensei em ser padre, o desejo que tinha dentro de mim era o de ajudar aquelas crianças em África.

Será que os dias de hoje são muito diferentes daqueles outros que vivemos há trinta anos aquando daquela seca horrorosa em África? Será que temos a real perceção dos acontecimentos de toda a Orbe?

Eu penso que a comunicação está hoje mais politizada do que naquele tempo e uma seca ou uma zona do globo que esteja com dificuldades é apenas matéria para uma breve notícia. Penso que o que for abaixo da guerra, já não tem força para ser alvo de uma comunicação eficaz.

Fiquei contente ao ver, por estes dias, que há um problema grave no Iémen. Não fiquei contente por haver o problema, mas por perceber que existem mais problemas para lá da guerra da Ucrânia e de Israel. Sim… as grandes desgraças, porventura, até nem estarão aí, mas em muitíssimas partes do globo. Simplesmente não têm o interesse mediático que estes dois acontecimentos têm…

Sabem quem é Ásia Bibi, aquela paquistanesa cristã que foi condenada à morte porque ofereceu um copo de água a uma muçulmana? Sabem o que se passa na República Centro Africana ou em Cabo Delgado, Moçambique? Sabem o que está a acontecer, neste momento, no Iémen? Sabemos nós, porventura, o sofrimento que se faz sentir no Sudão?

Há, sem dúvida, uma coisa certa, a comunicação, que é o garante da democracia, tem uma responsabilidade enorme em toda a perceção pública que temos dos acontecimentos mundiais.

Querem ver, aqui, alguns exemplos? Eu posso dá-los!

Porque é que os universitários de tantos países estão a manifestar-se com cartazes a dizer ‘Free Palestina’ e não escrevem ‘Free Iémen’ ou ‘Free Sudan’ ou ‘Free Pasquitan’? Ou pensando na repressão que existe na China, não deveriam também os universitários ter cartazes a dizer ‘Free China’?

Na verdade, se pensarmos no senhor Pedro Sánchez, vemos o que é o princípio da hipocrisia nas políticas internas e externas. Então o país que reconhece o Estado da Palestina do rio (Jordão) ao mar (mediterrâneo) – que significa o fim do Estado de Israel – não deveria também reconhecer a independência da Catalunha da região Basca? Ou terão de ressuscitar, por exemplo, a ETA para meter umas bombas, entrar por Espanha adentro, queimar umas crianças e violar umas mulheres, matando milhares de pessoas e fazendo reféns outras para obterem do Governo espanhol a sua independência.

Precisamos mesmo de ter a perceção global e não apenas regional de todos os eventos e acontecimentos e nisso a comunicação social tem a sua responsabilidade.