Este artigo vem a propósito da constatação, que qualquer cidadão pode comprovar, de que o país está a “cair aos bocados”. A saúde talvez seja a problemática mais sentida, mas há muitas outras. Gastamos hoje aproximadamente o dobro no Orçamento da Saúde, do que gastávamos nos tempos difíceis da Troika e, no entanto, a saúde é hoje bem pior. No fim de semana, passou uma reportagem no canal Now sobre cirurgias (e outras recusas de cirurgias por parte dos médicos) com instrumentos cheios de ferrugem e sem estarem devidamente esterilizados, pois a empresa externa ao hospital Garcia da Horta, pelos vistos não fez bem o seu trabalho. Por aqui se vê duas coisas: a primeira é que gastamos imenso dinheiro dos nossos impostos a fazer coisas externas ao Público (embora neste caso seja uma associação sem fins lucrativos criada pelo Governo Costa cujos órgãos sociais são pessoas ligadas ao PS e as associadas entidades públicas, sem mais comentários…), as quais mais facilmente seriam feitas e de forma mais rápida e mais barata do que fazendo fora, o que me parece o caso. Por contraposição, é mais barato e melhor fazer fora do Público tantas outras coisas (como por exemplo boa parte da saúde, da educação, transportes), mas não se faz por puro preconceito ideológico. A segunda é que, sistematicamente ao longo dos anos, vários governos, apesar do pouco dinheiro do Orçamento de Estado, canalizam grande parte das verbas para aumentos salariais na função pública, como foram exemplo os últimos 8 anos e meio do Governo Costa e o exemplo actual de Montenegro, descurando a manutenção e renovação de equipamentos, os quais são as ferramentas de trabalho dos funcionários públicos. Não há as ferramentas para as cirurgias, não há carros para a PSP e GNR, não há equipamentos militares para as forças armadas, por vezes nem há papel higiénico e papel para fotocópias, nem canetas, etc e chove em muitas instalações. Por sua vez, boa parte desses funcionários públicos, passam a vida em greves, a exigirem regalias e mordomias absurdas, os aumentos salariais nunca são suficientes, não se importando de não ter condições para fazer o seu trabalho.
Por contraposição, no sector social e dos cuidados continuados, sendo o decisor o mesmo – o Governo, este não nos dá condições financeiras para aumentar salários e executarmos a nossa missão, a qual é igualmente de serviço público. Há anos em que os valores que nos pagam, ou ficam congelados, ou são aumentos irrisórios. Na maioria das vezes não conseguimos aumentar salários e canalizamos as poucas verbas para termos ferramentas de trabalho adequadas e respectivos materiais, sem nunca esquecer uma boa manutenção das nossas instalações. O Estado (funcionários públicos) que nos fiscalizam são muito exigentes para connosco, mas não são para com eles próprios. No nosso sector temos muito mais e melhor trabalho, com condições, que os funcionários públicos, mas temos salários muito inferiores (enquanto a média salarial no Estado é de 1.730€, a nossa nem aos 1.000€ chega).
E se o Governo Costa nos impôs uma verdadeira Troika, um garrote ao sector durante 8 anos, este Governo até agora, vai pelo mesmo caminho, só soube aumentar salários para a função pública e ao sector social nem 1 cêntimo. Estamos a meio de Setembro e ainda não foram actualizados os valores a pagar às Creches nem aos apoios educativos a crianças com necessidades educativas especiais nas escolas (com Costa os preços estiveram congelados 7 anos). É caso para dizer que há cidadãos de primeira, outros de segunda e a classe política gere a questão mediática em função daqueles cujos órgãos de comunicação social dão palco. O resto não interessa, ou seja, o nosso sector não interessa para os governantes. Se o PSD vai fazer semelhante ao PS, então se calhar é melhor termos o original a governar em vez da cópia.
Até quando isto vai continuar?
Presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados